quarta-feira, 17 de junho de 2015

25 não é o final.



Completei essa semana 25 anos e um mês. Antes de completar esses tão temidos 25, tive crises e mais crises.

Quando criança, imaginando o futuro, sonhando com o dia em que eu seria adulta (e pensar que, agora adulta, insisto em querer ser criança), acreditava que aos 25 eu com certeza seria uma profissional bem sucedida. Pensava que uma chavinha viraria para a direita e PLIM!, eu automaticamente viraria adulta, com tudo o que ser adulta significava na minha questionadora cabecinha de cinco míseros anos.

Nessa época eu acreditava que os adultos tinham certeza sobre tudo, que sabiam tudo e que eram plenos conhecedores de todas as verdades possíveis. Com 25, portanto, não me restava alternativa: eu saberia de tudo, eu não teria dúvidas a respeito de nada, eu teria a solução para todo e qualquer problema.

Pois bem, cá estou, com 25, e acho que nunca, em todos esses longos e infinitos anos (mentira, chegou rápido demais! Tem como botar em câmera lenta daqui pra frente, Deus?), eu fui mais confusa do que hoje em dia.

A carreira bem sucedida que eu imaginava que teria também estou longe de conquistar. As viagens internacionais, os cantinhos do mundo que sonho e morro de curiosidade em conhecer, continuam distantes e desconhecidos. Fazer algo significativo para o mundo, para alguém, também continua na minha lista de coisas a fazer.

Minha crise foi intensa. Chorei uma quantidade de lágrimas capaz de cessar a crise hídrica paulista. Me questionei, me odiei, senti raiva, angústia, me senti um fracasso, uma farsa e tudo de ruim possível, porque de todo o ideal que criei da "pessoa adulta de 25 anos" eu não tinha conseguido cumprir em quesito algum.

O que eu quero mesmo falar é que, realmente, rola um sentimento de angústia por essa quebra de ideal. Mas completados os 25, que sofri tanto não querendo que essa idade chegasse, eu fui presenteada com uma rede de afetos e surpresas e carinhos e presentes e bons sentimentos e coisas boas.

Pode ser que eu não tenha chegado até aqui com tudo o que eu queria, mas a verdade é que tem coisas que eu não imaginei e não incluí nesses planos e ideais que me nutrem, dia a dia, para que eu continue buscando essa essência, os meus sonhos e valores.

Completados os 25, eu vejo que nenhum clichê é mais verdadeiro que aquela velha frase "O importante não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida". Posso não ter uma carreira sólida, posso não ter um passaporte cheio de carimbos, posso não ter certezas sobre a vida e sobre o mundo (graças a Deus!), mas tenho pessoas incríveis caminhando junto comigo nessa busca por um significado maior.

25 é só mais um começo, como tantos e tantos outros que já vivi e como mais infinitos que ainda viverei. 25 não é o final. 25 são incertezas mil e uma única certeza: tenho ao meu lado, caminhando comigo, os melhores! Obrigada, muito obrigada, a todos vocês! 

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Chega de angústia.




Nem adianta tentar reclamar. Não vou sair daqui e nem vou embora enquanto você não levantar dessa cama. Já chega. Eu respeitei sua dor, mas já faz tempo demais que você insiste em continuar nessa. Desse jeito, daqui a pouco você entra em um buraco sem fundo e aí é que não vai mesmo mais ter jeito. Não vamos deixar chegar a esse ponto, certo?

Levanta e vai tomar um banho. Sente a água em contato com o seu corpo, ensaboa cada pedacinho de pele com carinho e atenção. Olhe pro ralo e veja  a água indo embora e junto com ela todas as sujeiras e toda essa angústia que já não cabe mais em você. Sente seu corpo esvaziar dessas dores, sente seu corpo ficar limpo e se encher de pureza novamente.

Enquanto isso eu vou dar uma geral no seu quarto, que tá parecendo uma caverna. Chega de cortinas fechadas. Olha como são lindos esses tímidos raios de sol das tardes de outono entrando pelas frestas da sua janela, como essa luz clara e pura consegue preencher quase todo o ambiente. Sente também essa luz preencher o seu peito, a sua vida. Deixa o sol colorir seus dias.

De hoje não passa. Eu deixei você se enterrar em si mesma e ficar em cima dessa cama por tempo mais que suficiente. Eu sei que faz parte e que ninguém é obrigado a ser feliz e forte o tempo inteiro. Mas agora chega. Viu como foi bom esse banho? Agora penteia os cabelos e exercita a mente pensando que, enquanto desembaraça os fios, está desembaraçando também os pensamentos, arrumando as ideias.

Pinta no seu rosto aquele seu sorriso mais lindo e que tem tempos que você não usa. Que saudade me dão os seus sorrisos. Esse dia de temperatura amena, sol baixo e brisa leve combina perfeitamente com aquelas sandálias que já te levaram aos lugares e passeios mais incríveis e que certamente continuarão te levando a emoções ímpares, basta você querer.

Vamos agora andar sem destino certo, com a certeza apenas de que são novos caminhos, novos dias, oportunidades inteiramente novas de continuarmos escrevendo nossa história. Lembra sempre que a gente tem o trunfo da escolha, que a gente pode ser quem ou o que quisermos. Vamos preencher nossos dias com vontades, sonhos, ideias e felicidade. Eu estou aqui, estou com você, do seu lado. Vamos caminhar juntos rumo a não sei onde. Mas vamos, porque nessa cama você não fica mais.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O carma do nome com a quarta letra.




Começou depois daquele meu último relacionamento mais longo. O primeiro que eu resolvi dar uma chance, arriscar, que achei que tava pronta pra voltar a me relacionar com pessoas. Numa festa bem badalada, eu exaltava alegria como se não houvesse amanha. E no meio de tanta euforia e sorrisos e cervejas e passos de dança, uma conversa, uma troca de olhares e, enfim, arrisquei.

Ainda era relativamente recente pra mim. Quando esse primeiro me pediu meu facebook, tratei de falar que não, melhor não. "Você vai me adicionar e ver um milhão de fotos com meu ex e não vai gostar, deixa assim." E assim ficou. Depois até rolou uma tentativa de aproximação, mas decretei que definitivamente não. Aquela noite havia sido um erro, sem chance de ser repetida.

Mal sabia eu que tinha apenas começado uma trama, me lançado em uma espécie de carma e que esse, era só o primeiro da sequência dos que têm esse nome iniciado pela quarta letra. Passou o primeiro, meio esquecido, meio despercebido, com um toque de arrependimento.

Depois, logo depois, veio o outro, também com aquele nome iniciado pela quarta letra. Esse sim mexeu comigo. Esse me fez acreditar que era possível de novo, que valiam apena as tentativas de felicidade. Por uns dois meses, poucos encontros, mas com um conexão que não é fácil de achar. Caí nas graças, me entreguei e já nem sabia mais quem era aquele tal ex. Dormia com sorriso no rosto, encontrava com paz na alma, voltava pra casa já com saudade. O mundo voltou a ser colorido, os sentimentos voltaram a fazer sentido e a vontade de estar junto prevalecia.

Mas por ironia do destino, pelas esquinas da vida, pelos traços mal traçados, cruzou outros caminhos. Sofri, me apeguei, fiquei inconformada. Pra esse eu queria dar o mundo, todo meu carinho, toda minha atenção, todo o meu amor. Mas da noite pro dia, do conto de fadas pra realidade, o príncipe encantado da prancha de SUP virou um sapo.

Com sofrimento adolescente, certa relutância e alta dose de inconformismo, continuei. E pelo caminho, apareceu mais um. Mesmo nome, iniciado pela mesma letra, outra vez. Amigo de um amigo, sorriso fofo, meio garoto, meio tímido, meio deslumbrado. Acabou acontecendo. E tem sido e tá sendo. Dia a dia, meio sem jeito...

Pra completar, mais outro, mesmo nome, mesma letra. Não cheguei a conhecer, apenas converso vez em quando através dessas ferramentas tecnológicas, mas que surge oferecendo mil carinhos, mil elogios, mil galanteios.

Em dezembro, nessa primeira chance que dei de volta pra vida, depois daquele relacionamento mais longo, abri o caminho pro início desse carma. Não sei se vai parar algum dia, não sei se vou parar em algum desses de nome com a quarta letra, não sei se muitos assim ainda virão. Mas não é possível que seja só coincidência. Alguém sabe explicar o inexplicável? É carma mesmo? É, sei lá, numerologia? Ou é só mais um motivo, mais uma desculpa, pra ficar martelando na minha cabeça teorias que possam desvendar o mistério?

Num espaço de tempo de 5 meses, todos esses com o mesmo nome, iniciado pela quarta letra. Todos completamente diferentes entre si. Todos despertando coisas completamente diferentes em mim. Todos colaborando pra que, dia a dia, eu me descubra cada vez mais. Vai ver é isso. Desvendado o mistério. O objetivo disso é, como sempre, me descobrir, me revelar, me conhecer, me reinventar.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Dia do Jornalista.



Então quer dizer que hoje é o Dia do Jornalista. Pela primeira vez passo este sete de março como uma profissional da área. Quer dizer, pelo menos é o que consta no meu currículo e no meu diploma.

Comecei o curso querendo mil coisas. Escrever, a principal delas. Já quis atuar no jornalismo investigativo e levar uma vida á la Tim Lopes. Já quis ser a futura Fátima Bernardes (ou Patrícia Poeta, trazendo um pouco para a realidade atual). Já quis ser uma Glória Maria, fazendo matérias e reportagens incríveis mundo afora.

Hoje, formada, depois de tantos quereres diferentes, não faço mais ideia do que quero de fato. O trabalho do jornalismo, quando feito com seriedade, imparcialidade e com compromisso com a informação e com a verdade é lindo. O profissional muitas vezes se arrisca em meio à guerras urbanas, perde datas e mais datas festivas fazendo coberturas de acontecimentos que não param de ocorrer só porque é feriado ou fim de semana, passa por coisas super delicadas.

O jornalista precisa ainda, além da perspicácia, audácia, curiosidade, senso crítico e insistência, ser sensível. Precisa entender quando pode insistir e ir atrás e quando está desrespeitando a dor de alguém.

No país hoje há uma desvalorização absurda do profissional de jornalismo. Os salários são baixos, muitas vezes menores até que remunerações para pessoas com nível médio. O advento da internet, ao mesmo tempo que adianta absurdamente a vida de todos nós, surge como uma certa barreira também. Qualquer pessoa publica qualquer coisa sem apurar os fatos. Qualquer notícia falsa é viralizada em questão de segundos.

Os desafios para nós, profissionais da área, são muitos. Como recém formada, na busca por uma oportunidade de trabalho, me sinto frustrada. Vejo o mercado mega exigente, querendo um profissional com experiência nas mais diversas áreas por tempos consideráveis, que tenha cursos, pós, e etc, mas em contrapartida oferecendo um salário que não condiz com tantas exigências.

Sinto sim orgulho em dizer que sou jornalista. Foi uma trajetória não muito fácil para chegar até aqui. Mas confesso, estou desanimada e tentando ser criativa no sentido de procurar outras frentes.

No mais, neste sete de abril só posso desejar muita garra e muita perseverança a todos nós que escolhemos para nossas vidas esta profissão tão bonita, mas tão desvalorizada.

sábado, 4 de abril de 2015

Eduardo.




Sabe, Eduardo, quando eu tinha a sua idade, 10 anos, eu era uma criança como outra qualquer. Minhas principais ocupações eram o colégio e a ginástica olímpica. Nessa idade, eu amava brincar, sonhava em ser atleta, competir uma Olimpíada, depois ser médica, de repente, e, claro, viajar o mundo todo. "Não quero casar não! Tá doida que vou lavar cueca de marido! Vou é ter vários namorados e conhecer o mundo!", eu dizia, com uma lucidez impressionante pra tão pouca idade. Acredito que, como eu, você tivesse um monte de sonhos, planos e imaginasse um monte de coisa linda, doce e colorida pro seu futuro.

Eduardo, provavelmente nossa infância foi um pouco diferente, porque eu moro na zona sul e sempre morei e venho de uma família de classe média. Mas apesar disso, a família da minha mãe talvez seja tão humilde quanto a sua e isso me fez ver desde cedo que o mundo não é esse quadro cor de rosa que as menininhas da minha idade e da minha escola conheciam.

Sabe, Eduardo, a minha tia avó mora numa comunidade na periferia de Nova Iguaçú. E adivinha qual era a maior diversão nas minhas férias? Ir pra lá, ficar uma semana, mais ou menos na casa dela. Eu adorava. Uma prima da minha idade quase morava ali pertinho também. Você consegue imaginar, Eduardo, o quanto eu gostava de ir pra lá? Era tão bom! Eu brincava com várias outras crianças que tinham mais ou menos a mesma idade que eu. Ficávamos o dia inteiro pela rua brincando de pique, queimado, casinha e o que mais nossas imaginações permitissem. Eu chegava em casa imunda, cheia de terra daquelas ruas sem urbanização. Mas com uma alegria sem igual,

Eu adorava aquelas crianças de lá, que brincavam comigo sem parar. Eu não conseguia ver diferença nenhuma entre eu e elas. No máximo percebia que as roupas delas eram bem surradinhas e maltrapilhas e as minhas eram mais direitinhas. Percebia também que elas não tinham tantos brinquedos legais como eu tinha, mas em compensação eu via que elas tinham a rua pra brincar, coisa que eu nunca tive, a não ser quando estava por lá. As casas em que elas moravam também eram diferentes, quase todas tijolo puro, sem uma tinta, poucos móveis, às vezes um só cômodo. Mas eu sabia, Eduardo, que nada disso fazia delas diferentes de mim. Éramos todos crianças e precisávamos nos ocupar em brincar bastante.

A maioria delas não conhecia a praia, sabia dessa, Eduardo? Como podiam viver sem conhecer o mar? Eu sonhava em trazê-las pra passar uma semana aqui em casa e brincarem com meus brinquedos, irem à praia comigo, curtirem a piscina do clube que eu era sócia. Nunca aconteceu, não sei porque. Mas eu tinha vontade que elas viessem. Se eu podia ir ao clube, ter brinquedos, ir à praia, por que elas não podiam também?

E aí, Eduardo, nessa nossa idade de 10 anos, eu não entendia ainda muito bem toda essa injustiça e desigualdade desse mundo. Acredito que você também não via razão para as coisas serem como são, mas com certeza já devia ter sentido na pele o preconceito e o peso que morar em uma favela trazem. Sua mãe, assim como a minha, é trabalhadora e esforçada e fazia de tudo pra te proporcionar a melhor vida que ela podia. Vida essa que acabou, não é, Eduardo? Tragicamente acabou.

Hoje, nesses dias, todos sentimos sua perda. Eu não consegui conter minhas lágrimas diante de tamanha injustiça. Meu coração tá apertadinho, Eduardo, e eu queria muito poder dar um abraço bem forte na sua mãe. Eu queria muito que o mundo não fosse essa guerra que ele é. Eu queria muito que você e todas as crianças como você tivessem tantas oportunidades na vida como eu tive. Eu queria que o Estado e a polícia entendessem e respeitassem vocês.

Eu não te conheci, Eduardo, mas choro a sua perda com uma dor que não cabe em mim. Mas escuta, Dudu, aí de cima, nesse lugar lindo e iluminado que você está agora, trate de aproveitar o que não deu pra aproveitar por aqui. E reze, reze muito. Nós estamos com você. Que Deus conforte o coração da sua mãe, da sua família. E que nenhuma outra criança seja vítima fatal das circunstâncias. Que ser pobre, da favela e/ou negro, seja a mesma coisa que ser branco, do asfalto e classe média. Que a justiça, a segurança, a educação, a saúde, a urbanização, o esporte, a cultura, sejam para todos.

Fique em paz, Eduardo. Eterno anjinho.




terça-feira, 31 de março de 2015

Tudo inverso.






Falta educação. Falta escola. Falta saúde. Falta afeto. Falta teto. Falta família. Falta comida. Falta água. Falta lazer, diversão e arte.

Sobra preconceito. Sobra segregação. Sobra racismo. Sobra desigualdade. Sobra violência. Sobra hipocrisia. Sobra oportunismo. Sobra comida no prato, mas vai pro lixo e não pra quem tá com fome.

Ficam olhares raivosos. Fica a lei da rua. Na falta de respeito pela vida, sobra coragem de se arriscar. Quem já não tem nada, não há porque temer o que perder.

Há liberdade. Há impunidade. Há mesmo? Há justiça? Há vingança. Há ódio. Há sangue nos olhos. Há justiçagem. Há playboy vendendo droga. Há esse mesmo playboy espancando a criança negra e pobre que tentou roubar o que a vida nunca lhe deu.

Há o colarinho branco sonegando impostos. Há a corrupção desenfreada. Há o descaso com as empregadas domésticas. Há a raiva e o vulcão em erupção bradando pela redução da maioridade penal.

Há prisões lotadas. Há processos arquivados. Há quem ache que a solução pro ódio é mais ódio. Há quem ache que a solução pra violência é mais violência.

Todos vivem a guerra urbana, onde a vitória sempre tende pro lado do mais abastado. Há a luta diária por um prato de comida. Há quem se drogue porque não existe a menor perspectiva, a mínima educação, nenhum afeto, nenhum discernimento. Há quem se drogue pra ser descolado, pra ser aceito, pra ser temido. E esses segundos são os primeiros a apontar o dedo praqueles outros.

Há um caos. Há um mundo ao contrário. Há tudo muito errado. Há quem ache que um erro justifica outro. Há quem apoie que dois erros formam um acerto. Cada dia a civilização fica mais atrasada. Cada vez os moderninhos são mais conservadores. Cada dia o contemporâneo fica mais medieval.

Onde estamos? Que mundo estamos? Que ano é esse? Ainda vivemos em sociedade? Já tá valendo a lei da selva. Ganha o mais forte (mais endinheirado). E os outros, bom, os outros que se lasquem, que se matem uns aos outros, que continuem sujando suas mãos. Porque os ricos, bem, os ricos se sujam por inteiro, mas depois tomam um banho quente numa banheira imensa e saem limpinhos pra apontar dedos enrugados da água a quem nem acesso a ela tem.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Jogo da vida.




Preciso me encontrar. Preciso me contar. Preciso achar a saída. Há realmente uma saída? Ou a vida é esse labirinto eterno e sem fim que a gente roda, roda, roda e quando vê tá no mesmo lugar, perdido de novo. E aí a gente descansa um pouco, tenta recuperar a força, a esperança, a fé e recomeçar a andar. Cruza à direita, à esquerda, depois direita novamente e vai indo nessa por aí, sem fim, até parar, de novo, no mesmo lugar. Ou até achar a saída, se houver mesmo saída nesse jogo.

É um jogo realmente. E é um jogo bem difícil. Iniciantes caem logo, perdem, desistem. Tem que ser perseverante e acreditar. Tem que ter fé, se não rapidinho o jogo cansa e dá vontade de pedir pra sair da partida. Voltar em uma outra de repente, num jogo novo em que haja possibilidade de ganhar.

É isso, a vida é um jogo mas eu me recuso a jogar. Talvez tenha nascido com algum déficit que faz com que eu não entenda as regras, com que eu não consiga seguir as regras. Por mais que cheguem e falem e me expliquem e repitam e tentem ter paciência comigo, não consigo entender. Acho que entrei no jogo já no modo hard, só pros experientes, quando sou uma novata iniciante que devia tá na baby class, na parte do treino ainda.

Mas é o que dizem por aí: jogo é jogo, treino é treino. O treino acho que eu vivi quando era feto ainda, ali era tão simples. Ali eu entendia o jogo. Ou não. Mas não entender não fazia a menor diferença, não causava a menor preocupação. Era só ficar ali, flutuando, recebendo nutrientes.

Quando passei de fase e cheguei no modo de jogo pra iniciantes, na infância, continuei jogando direitinho. Se não entendia as regras, ao menos as seguia sem pestanejar. A regra agora é brincar? Sorrir? A regra é ir pro colégio, fazer coleguinhas, respeitar os pais? Tá bom, eu consigo. Joguei essa fase numa facilidade absoluta, e acho que por isso que passei tão rápido pra parte da dificuldade moderada.

Acho que foi quando cheguei aí que comecei a questionar esse jogo e essas regras. Comecei a achar que o jogo não tem o menor sentido. Pra quê tudo isso? Por que eu tenho que jogar desse jeito, que nem todo mundo joga? Colégio, escolher a faculdade, arranjar um namorado, fazer mais amigos, ir à festas... tenho mesmo que fazer tudo que todo mundo faz só pra não ser eliminada como perdedora? Ou pior, ser mandada pro chefão e ficar por lá eternamente sem conseguir passar por ele porque simplesmente não me dá a menor vontade de passar por ele?

E aí, sem nem conseguir jogar no moderado, me mandaram pro avançado. Não faço ideia de como cheguei aqui. Só deveria ir pro avançado quem consegue acompanhar o jogo, entender as regras e não questionar tanto tudo. Só devia ir pro avançado os realmente aptos a isso. Mas agora to aqui, nessa parte tão difícil sendo que nem no moderado eu aprendi e consegui jogar.

Posso dar um pause no jogo? Posso resetar? Voltar e fazer tudo de novo, tentar achar um jeito de ficar lá no iniciante, que era bem mais fácil. Não gosto de jogos difíceis. Gosto menos ainda de jogos cheios de regras inúteis, idiotas e que não servem pra nada a não ser mostrar pros outros que você joga também, que você pode ser melhor que ele, ultrapassá-lo.

Chega, por favor! Não quero mais brincar, não quero mais jogar. Esse jogo não tem saída, é sem fim e com regras absurdas demais. Posso dar um game over? Deixa eu escapar desse jogo. Cansei. Joguem sozinhos, tô pulando fora.

É difícil se recusar a jogar. A maioria absoluta de jogadores natos te veem como um ET. Mas às vezes não é nem questão de escolha. Sei lá. Minha alma não consegue, eu não consigo. Tô tentando na minha cabeça, na minha vida (não nesse jogo que é a vida que todo mundo vive), criar um modelo novo, uma nova forma de jogar. Mentira. Não quero mais jogo nenhum. Não quero regras. Que cada um siga seus instintos, seus pensamentos, seus sentimentos, sua intuição. Desde que respeitando o amigo, seja ele mais um jogador aficionado que não se importa em ficar jogando com esse bando de regra inútil, seja ele alguém que também não entende pra que tanta norma a ser seguida.

Que sigamos com a vida, mas sem mais jogos. Que sejamos apenas pessoas, humanos, com virtudes e fraquezas e não apenas jogadores manipulados.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Exposta.




Tô cansada de assustar. Tô cansada desse mundinho banal e falso. De sorrisos pela frente e a faca pelas costas. Tô cansada de ser a louca só porque sou verdadeira. É isso aí. Não dá, desculpa, não consigo. Nem quero, na verdade. Não vou me conter ou fingir que não tô nem aí quando já to muito mais aí do que aqui. Não vou ficar quieta e calada se eu tiver algo pra falar. Não aguenta ouvir? As portas estão abertas.

Eu sempre acabo estragando tudo por falar demais, por me expor demais, por me mostrar demais. Mas eu não aguento, não consigo ficar no joguinho de ego e orgulho e superficialidade. Não aguento as desculpas e os falsos discursos, que tão na cara que são falsos. Não vem falar que tá com saudade quando sei que é mentira. Não vem dizer que quer me ver se não é capaz de se mover um centímetro pra isso. Não vem falar que vai me salvar quando na verdade vai colaborar pro contrário. Não transforma minha vida num quarto quentinho e bom e gostoso e silencioso e aconchegante, pra no momento seguinte fazer virar um casarão abandonado, cheio de teias de aranha, mofo e insetos.

Quer ficar, fica. Mas fica sem desconfiança. Fica e mostra que quer ficar. Porque pra ficar mas querer fingir que tá indo e fazer esse ir e vir e ir e vir eterno eu não quero não. Eu que vou então. Eu não quero nenhuma certeza, não quero nenhuma promessa, não quero nenhum rótulo. A única coisa que peço é honestidade, sinceridade. Peço que quando tiver por aqui, que esteja por aqui de fato, esquecendo de todo o resto. Peço que só me encontre se realmente estiver afim de me ver. Que converse e se interesse verdadeiramente e não só pra fingir que se importa. Peço que não esconda, que não se esconda, que não me engane. Não quero mais que um colo quentinho, um ombro amigo, palavras sinceras, olhares doces e mãos dadas que ajudam a atravessar essa incerta caminhada.

Da minha parte, continuo assim, sendo verdadeira, respeitando minhas vontades. Se não aguenta com a verdade, se não posso falar o que acho, o que sinto, o que penso, não fique. Mas se você suporta, se você também não sucumbe a esse jogo idiota, vem aqui mais perto, senta do meu lado, vamos falar besteiras, sorrir sem motivo, dormir abraçado e acordar feliz. Vem, vem hoje, fica por hoje. Amanhã, amanhã não sei. Amanhã a gente vê. Amanhã tá muito longe ainda. Deixa o amanhã pro amanhã. Mas hoje, vem, por favor.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Para de fugir.




- Não é nada disso que você está pensando.

- Como assim? Eu não to pensando em nada além de te dar uns beijos, fazer uns carinhos, olhar seu sorriso que me faz sentir coisas puras.

- Você sabe do que eu to falando, não vem de conversinha pra tentar disfarçar.

- Não, eu não sei.

- Eu não sou esse tipo de mulher. Nada contra, às vezes até preferiria ser. Mas não sou, paciência...

- Que tipo? Porque pra mim você faz exatamente o 'tipo' que gosto, se é que isso existe. Meio tímida, meio extrovertida; louca mas com uma lucidez que me impressiona; inteligente e divertida. Isso sem falar no quanto você é atraente, melhor eu não entrar nesses méritos, se não posso perder as estribeiras.

- Você fala essas coisas e acha que me engana. Aposto que fala isso pra todas. Aposto que é mais um papinho furado pra me iludir.

- Eu não tenho porque mentir, nem porque querer te iludir. Me ofende até você pensar isso. Não vê que eu tô na tua? To louco por você, garota. Para de querer criar obstáculos só porque tá com medo de sentir de novo.

- Para você de achar que sabe tudo. Eu não tenho medo não, tá? Já quebrei a cara tantas vezes, uma a mais, uma a menos, acho que nem faz diferença.

- Então por que fica nessa defensiva? Sei que não é joguinho, não faz seu estilo. Você é verdadeira demais pra cair nessas ladainhas idiotas. Mas você não se deixa levar. Fica se prendendo, querendo trancar suas vontades em um cofre e jogar a chave no meio do oceano.

- Não me deixo levar porque não tem aonde ir, só isso. Me deixa ser como sou.

- Aí você se engana. Tem tanto lugar pra irmos. Aceita meus convites. Vamos naquela praia mais reservada, naquele restaurante novo que eu sei que você tá doida pra conhecer. Um fim de semana em Ilha Grande, pra gente curtir muito a natureza e essas coisas que você gosta. Nossa, tem muito lugar, muita coisa. Deixa eu te levar, só isso. Não me pergunta pra onde, nem quando ou por quê. Só vem, confia, não vou te decepcionar!

- Até que esses programas que você falou me deixam empolgada só de pensar! Mas não sei... a gente não tinha combinado que ia devagar?

- Criatura, não existe essa de ir devagar ou rápido. Existe ir, curtir, se deixar levar, se permitir. Eu não to te pedindo pra casar comigo, nem quero casar nunca na verdade. Só quero aproveitar sua companhia, só quero poder ter mais noites dormindo com um sorriso nos lábios lembrando nossos momentos divertidos em mais um passeio maluco. Só quero poder ainda muitas vezes me encantar com a carinha desconfiada que você faz quando faço mais uma das minhas piadas sem graça. E te ver sorrir, porque o seu sorriso é o que faz valer meu dia....

- Não posso com você, não é? Onde você aprendeu a falar tanta coisa bonita? Para de acertar tudo o que eu quero escutar.... parece que você me conhece mais que eu mesma e tem só o que? Umas duas semanas?

- Pára de ser boba de uma vez. Fica aqui. Vem cá pra perto, chega de fugir. Vem logo pro meu abraço, se aconchega aqui e vamos mais uma vez ver o tempo passar sem ver o tempo passar. Fica.

- Meu medo é acabar ficando pra sempre. Mas já tô ferrada mesmo, já era né? Jogo ganho pra você... Que que a gente vai fazer hoje à noite? Porque não quero mais saber do amanhã....

sexta-feira, 13 de março de 2015

O jogo da ditadura da felicidade.



Sou só eu? Ou mais alguém por aqui tem coragem de assumir? Sou só eu ou tem mais alguém que não aguenta mais a ditadura da felicidade? Ficar triste vez em quando virou doença, é demodê. Todo mundo tem sempre que tá feliz e com um sorriso no rosto e distribuindo afetos e cantarolando e assobiando e.

Mas você deixa? Posso ficar um pouquinho triste? Posso ficar reflexiva? Posso ficar um pouco no meu mundo e esquecer o que passa aí por fora? Posso ser eu de verdade sem as máscaras que o convívio social e a ditadura da felicidade tentam impor pra mim?

Deixa eu sofrer porque estou com quase vinte e cinco anos, nenhum centavo no banco, sem emprego, sem nenhuma grande conquista, sem nenhum bom feito pro mundo. Deixa eu sofrer um pouco por isso sem vir correndo mandar eu ter calma e falar que tudo vai se ajeitar, que ainda tô muito nova e que não tem porquê tanto drama e tanta preocupação.

Eu sei, eu sei. Minha vida é ótima. Tenho pais vivos e que me amam, tenho amigos que me rodeiam, tenho uma casa onde posso todos os dias tomar banhos e limpar as sujeiras do mundo, tenho uma cama onde posso me refugiar de tudo e todos, tenho sempre pão quentinho na mesa posta. Eu sei, realmente a minha vida é boa pra caramba.

Eu não faço vaga ideia do que é acordar, tomar café da manhã mas saber que janta não vai ter. O que é acordar, não ter café da manhã e janta menos ainda. O que é ter que ficar com a mesma roupa por dias e dias sem tomar um único banho. Eu não faço vaga ideia do que é não ter uma cama macia pra desabar quando o mundo parece pesar demais sobre os meus ombros. Eu não consigo nem imaginar o que é viver sem pais, o que é viver sem saber o que é amor, carinho e compaixão.

Só que tudo isso, em vez de deslegitimar meu sofrimento, o potencializa. E sofro mais ainda por sofrer por coisas tão fúteis e ridículas e banais como ter quase vinte cinco e agir como quem tem dezessete.

E eu me acho tão cool e descolada e livre de preconceitos. Só porque sou amiga do ambulante, só porque converso pra caramba com a moça da faxina, só porque cumprimento sempre o meu porteiro. Como se nada disso fosse normal ou corriqueiro. Me acho destemida por andar pelas madrugadas sem medo, pegar ônibus pra cima e pra baixo a hora que for.

Mas me bota pra ir sozinha pegar ônibus na Central do Brasil. A garotinha tão cool e destemida chega a chorar com medo, com o choque de realidade de milhares de crianças que mal devem saber falar cheirando tíner e com um olhar já malicioso. E a polícia dando uma dura em outros moleques. E todo aquele ambiente que parece tão hostil, mas que, infelizmente, não passa da dura realidade. E aí, saindo da bolha, eu consigo ver o quão pequena sou, o quão igual sou a qualquer outra acéfala garotinha da zona sul.

E mais sofrimento por não fazer nada pra mudar essa realidade. E o mundo pedindo, implorando pra eu jogar o jogo dele, pra eu fingir que não me importo, pra eu voltar pra minha bolha e viver na ditadura da felicidade como todos que me cercam e fazem parte do meu convívio social.

Vai lá, Tati. Toma um copo d'àgua, lava esse rosto. Não olha pra todos os lados, olha pra esse nosso mundinho só. Olha pra sua vida que é quase de comercial de margarina. Vem, bota uma roupa bonita, maquia esses olhos pra esconder que muitas lágrimas caíram deles, veste aquele seu sorriso bonito que sempre elogiam. Vem ser feliz com a gente, tomar uma cerveja, jogar uma conversa fora.

E eu vou. E pelo menos por algumas horas eu fico ainda mais fútil e patética que o normal. Sorrio e gargalho como se não soubesse o que é dor, o que é sofrimento. E pra completar o pacote de autotraição, fotografo tudo e compartilho em redes sociais. Afinal, que graça tem sucumbir e jogar esse jogo imundo que todo mundo joga se ninguém ficar sabendo?

quinta-feira, 12 de março de 2015

Minha experiência no Tinder, meus dias de Tinderella.



Acho que foi numa segunda-feira de puro tédio e monotonia que me rendi. Sempre tive uma certa curiosidade em saber como funcionava o famoso Tinder, em saber como era e tudo o mais. Na época em que ele estourou e bombava, eu namorava, então acabei nunca criando uma conta. Eis que essa semana, no auge do ócio e da carência também, devo confessar, acabei baixando o aplicativo e criando uma conta.

Sempre tive preconceito e achei tudo isso uma vibe muito chat uol. Ao meu ver, com minha visão etnocêntrica e preconceituosa, só ia ter gente muito estranha e loser. Considerei que, de fato, tinha finalmente chegado ao fundo do poço. Mas ok, já que estamos aqui, vamos ver como se brinca dessa coisa.

Ajeitei minhas fotos de modo a dar a ilusão de que sou interessante e fiz questão de escrever que só estava no app por tédio. Na real mesmo, não tinha a menor pretensão de encontrar pessoalmente ninguém que visse por ali, nenhum "Match". Mas fui passando, com X, todo aquele cardápio de faces e que nada dizem e nada trazem além de bonito ou não aos meus olhos. Quando passava um que parecia mais interessantezinho, olhava as outras fotos, o que tinha escrito ali. Ainda assim, não tinha coragem de dar "like". X, X, X, X,.. e por aí vai.

Um tempo depois, após passar milhões de rostos, arrisquei um coraçãozinho pra um perfil aleatório. Já quase me arrependendo na mesma hora. Mas depois do primeiro, ficou mais fácil e distribuí mais uns cinco ou seis likes.

Daí vieram alguns "match" e, claro, não fui conversar com ninguém até que viessem falar comigo. Já tinha dado o "like", ir falar já era demais. O que me surpreendeu é que até têm pessoas interessantes que, após um pouco de conversa, a gente vê que não são apenas um rostinho (e um corpinho, porque pra ganhar meu coraçãozinho tinha que ser o pacote completo! hahaha) bonito. Ok, quebrei a cara. Eu e meu preconceito perdemos.

No primeiro dia fiquei muito tempo passando rostos aleatórios, mas já é o terceiro que estou por lá e já sem paciência de continuar. Não tenho coragem nem vontade de marcar um encontro com ninguém ali, ainda que tenha sido legal a experiência e que tenha feito bem pro meu ego tão surrado e minha autoestima de fundo de poço.

Ao final dessa minha experiência Tinderellesca, só concluo que não, não vou me acostumar com isso. Não, não nasci pra isso. Apesar de sempre me achar muito contemporânea e com pensamentos super modernos, me vi sendo bem tradicional nesse ponto. Não dá pra se acostumar com um cardápio de faces aleatórias. Não dá pra achar que só porque o sorriso é bonito, a tatuagem é legal, ele surfa e já visitou lugares incríveis, ele tenha a ver comigo. E aquelas coisas que só o contato ao vivo revelam? O jeito de falar, o modo como pisca os olhos, a maneira como sorri quando fica sem graça, a química, o toque, e todas essas coisas que jamais conseguiremos descobrir através de uma ou duas fotos?

Perdi um pouco do meu preconceito e to quase desativando a minha conta porque já enchi o saco. Como falei com as minhas amigas, no Tinder me sinto em um parquinho virtual. Resta saber se já cansei de brincar ou se vou tentar achar a roda gigante que me deixa sem ar, com frio na barriga e o coração acelerado.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Amor de praia.



Eu online, você offline. Eu quente, você frio. Eu buscando, você fugindo. Te peço pra ficar quando você já foi. Te peço pra vir quando você nem por perto está. Te quero comigo quando você tá com outra. Te espero quando o ponteiro do relógio já deu todas as voltas possíveis.

Não canso de ver amor onde só há canalhice. Não canso de repassar a história como se realmente alguma história existisse. Com todo o seu jeito que quase me implora pra ir embora, eu insisto em tentar ficar. Toda sua sedução barata se passa por final feliz aos meus olhos cegos de carinho e bem querer.

Seu sorriso mais brilhante e cheio de dentes é quase uma faca entrando devagar no meu peito, abrindo uma ferida que sangra e dói e que ainda assim eu cuido com carinho. É quase um masoquismo insano, é quase como se eu me agarrasse à dor só pra não deixar morrer o sentimento.


Sua pele bronzeada como se fosse verão o ano inteiro. E quando você resolve dar as caras novamente, realmente parece um verão sem fim. Ainda que seja amor de estação, ainda que o verão esteja com seus dias contados, ainda que eu soubesse de tudo isso desde o início e que eu tivesse topado que fosse assim desde o primeiro momento, não consigo aceitar que esse amor de praia termine sem amor.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Monotemática




Eu já tinha prometido pra mim mesma que não ia mais tocar no assunto. Já tinha jurado de pés juntos que não ia outra vez falar de você. Mas tudo grita aqui dentro que ainda há um pouco desse 'nós' que nunca existiu.

Tão estranho, difícil. Foram tão poucos encontros, tão poucas vezes. Mas não dá pra fingir que só porque foi rápido, só porque foi passageiro, só porque não passou de um conto breve com um único parágrafo, eu não queira continuar escrevendo a história. Começamos a quatro mãos e agora eu sigo sozinha, imaginando tudo, fantasiando e criando isso que podia ser tão lindo, mas nunca chegou a ser nada.

Durmo lembrando de como o sol dourado reluzia em seus cabelos escuros. Acordo lembrando da sua tentativa de ataque em vingança a um ataque anterior meu. E a gente morrendo de rir de tanta besteira. Não esqueço da gente deitado abraçado, olhando o teto ou o pedacinho de céu passível de vislumbrar pela janela aberta. As sua boca com dentes tão perfeitos e brilhantes e as promessas e todas as coisas lindas que você dizia. Até sua cachorra estabanada era a coisa mais gostosa de brincar, agarrar e ver correr pra buscar o coco arremessado.

Às vezes me pergunto quando comecei essa fissura por você. Mas não preciso pensar muito. Quando você contou dos seus projetos, com um entusiasmo e brilho nos olhos que só as crianças mais puras conseguem ter, eu sabia que eu tava enrascada. Me ganhou ali. Antes mesmo de qualquer coisa acontecer eu caí, caí de amores, de admiração e de um desejo de estar junto e abraçar e cuidar e querer bem.

E nossa, eu sou sempre tão dura, tão cética, racional e cheia de razão. Sempre demoro a abrir minhas portas, a despir minha alma e me vi fazendo exatamente o contrário. Tanta gente legal que conheço por aí, que esbarra em mim e que merece minha atenção, merece um carinho e que eu apenas deixo passar, por me fechar, me recusando a tentar viver e sentir mais uma vez coisas maravilhosas mas que acabam sendo pura ilusão.

Ainda assim, acho que no fundo devo gostar mesmo de me iludir. Fantasio as coisas, esqueço da vida, dos erros e vivo um conto de fadas que só existe mesmo na minha mente. Me pergunto como posso ter me confundido tanto, já que em geral capto logo a aura das pessoas. Mas se você não serviu pra virar romance, serviu ao menos pra me deixar boas lembranças de momento únicos, pra me fazer sentir a vida, pra me fazer acreditar de novo, ainda que acreditando eu possa conquistar apenas um coração todo despedaçado.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Eu só queria que a vida fosse um carnaval.




Os dias passam e a euforia aos poucos vai se esvaindo. Ainda tem um pouco de purpurina no couro cabeludo. Ainda tem adereços e fantasias espalhados pelos móveis. Ainda tem um confete ali no chão, no cantinho da parede do quarto mal faxinado. Ainda tem o cansaço nas pernas, o sorriso bobo ao olhar as fotos. Ainda tem a memória trazendo à tona vários e vários momentos de felicidade.

Já faz falta o descompromisso. Já faz falta acordar cedo com cansaço e ressaca e ainda assim feliz e empolgada. Já faz falta a única preocupação do dia ser chegar em casa e ainda preparar os jelly shots pro dia seguinte. Já fazem falta os amigos por perto, os sorrisos compartilhados, os abraços multiplicados e os carinhos com quem mereceu mais atenção.

Depois de todo esse festival de alegria, dessa explosão de sentimentos puros, dessa fantasia (não apenas no sentido de "vestimenta"), desse delírio coletivo regado a gargalhadas e álcool, a realidade volta à tona com tudo. Vem cortante. Vem difícil.

Lembrar que a vida agora é um vão escancarado com milhões de possibilidades, mas sem conseguir enxergar nenhuma oportunidade, traz uma dor que dilacera o peito, um vazio impreenchível. Como completar os dias? Como prosseguir com a vida? Como escolher um caminho? Como começar esse caminhar?

O vão, o vazio, a estrada escancarada com mil vias e retas e curvas e ladeiras e obstáculos. Pra onde ir? Qual direção tomar? Afirmo para mim mesma que é proibido estacionar na vida. Mas como não ficar paralisado diante de um penhasco?

Mil planos, duas mil e uma ideias e a inabilidade de colocar qualquer coisa em prática. No campo da teoria, sou campeã em construir vidas e sonhos. Mas não consigo transformá-los em realidade, não consigo nem mesmo saber por onde começar.

Eu só queria um bom motivo pra acordar todos os dias. Eu só queria ter certeza que tô fazendo alguma coisa relevante pra alguém. Eu só queria saber que não preciso ficar desesperada com o saldo no banco.

Eu só queria uma chance de ser quem sou, sem medo. Uma oportunidade de colocar pra fora todo o potencial que eu sei que existe em mim, ainda que debaixo de uma insegurança gigante e  de baixa auto estima. Eu só queria que a vida fosse mesmo um carnaval, não no sentido do descompromisso e da esbórnia sem fim, mas no sentido de sempre haver um motivo a mais pra festejar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A vida é maquiagem.




A vida é maquiagem. A gente maquia dor com carnaval. Maquia tristeza com sorrisos falsos. Maquia desilusão com álcool. Maquia solidão com mil amigos no facebook. Maquia falta de identificação com moda do momento. Maquia exclusão social com "pacificação". Maquia a culpa comprando um salgado pro morto de fome. Maquia o cheiro da podridão humana com perfumes. A gente maquia o rosto porque não pode maquiar o mundo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Obrigada e adeus.




Você olha no fundo dos meus olhos e diz que sente isso também. Você diz que não tem medo, que vai fundo, que quer o mesmo que eu. Você me acalma fazendo as coisas mais erradas do mundo soarem como certas. Você chega pertinho do meu ouvido e sussurra doces palavras de carinho. Você me acaricia sem nem mesmo me tocar. Me mostra que vale apena de novo e outra vez. Me faz acreditar no impossível, porque pra esse nosso sentimento impossibilidade não existe no dicionário.

Você quer refazer o contrato. Desistir dessa história de desapego, de joguinho, de orgulho. Você quer que a gente se assuma, sem medo e nem aí para o mundo. Você me quer como uma história de amor, sem fim, ou com finais felizes. Não quer mais contos e mais contos que viram fábulas sem moral alguma. Acabou, chega. Não dá mais pra fingir que não se importa, que não é com a gente, que o mundo com suas milhões de possibilidades e facilidades vale mais apena.

Você me pede tudo isso sem pedir. Apenas com carinhos e abraços e beijinhos e amor, ainda que nada disso se pareça com amor mesmo. Você quer morar em mim. Quer que eu descarregue a mudança no seu terreno. Que eu solte tudo isso que guardo. Que eu seja eu, plena e louca como sou. Diz que aceita, que compreende, que tá comigo nessa vida, que tá do meu lado, que vai enfrentar o que for pra tentar acalmar esse peito tão cansado e carregado de coisas que nem sei mais o que são.

Mas você faz tudo isso sumindo quando preciso. Curtindo momentos íntimos com outras. Esquecendo de mim e só lembrando quando sente falta de um carinho mais verdadeiro, de uma palavra amiga, de um conforto na alma. Você me ilude, mente escancaradamente verdades absolutas. Se contradiz. Fala, repete, faz de novo como se jamais tivesse feito antes. Inventa desculpas sem cabimento. Desaparece como sopro de vida e reaparece como se jamais tivesse saído daqui. Você tem certeza que eu estarei esperando mesmo depois de tantos adeus nunca dados.

Só que chega. É amor, não é amor, é só uma cócega na alma. É só uma brisa leve no calor de 40 graus. É só o gostosinho no peito antes de dormir. É o sorriso involuntário ao acordar do seu lado. Não sei o que é. Mas chega. Não faz mais isso. Não espera que eu esteja aqui depois de mais uma ida sem volta mas que sempre tem volta na verdade. Cansei. É isso, acho que cansei. Eu tava aqui, sempre estive aqui. Eu tava disposta, eu ia enfrentar as desconfianças adquiridas após 24 anos vividos em um mundo em que ninguém mais se olha nos olhos. Eu acreditei, confiei, me entreguei como nunca. Em vão. Sem mais palavras e olhares e carinhos pseudo verdadeiros que só enganam o peito pra conseguir o que quer e depois se vão.

Você me ajudou. Me mostrou que a vida é mesmo linda apesar das demoras e partidas e loucuras sem fim. Te agradeço por isso. Mas agora chega. Vou continuar colorindo o mundo com tintas alegres que não desbotam. Mas daqui sigo sozinha. Apesar de toda a sacanagem, inverdade e canalhice, te agradeço. Obrigada por me ajudar a resgatar em mim esse sentimento puro que achava que não era mais capaz de sentir. Obrigada por fazer com que os dias voltassem a ter sentido. Obrigada de coração. E adeus, que continue encantando meninas doces e perdidas por aí. Pelo menos até que elas se encontrem, ou que você, que na verdade é quem mais precisa, se encontre também.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Quem fica.




Felicidade flui. Sentimento corre. Inspira e sente o ar preenchendo os pulmões. Percebe o coração batendo, bombeando líquido vital para cada pequena parte do seu corpo. Sol dourando a pele, esquentando a temperatura interna, aumentando as vibrações boas que passam livremente dentro de si. Água salgada em larga oferta convidando para um mergulho revitalizante. Assim segue. Assim passam os dias, assim sente e celebra a vida.

Se enche de bons sentimentos. Vez em quando acha que não vai caber. Transborda, explode. Compartilha sorrisos. Compartilha abraços. Compartilha palavras de carinho e quem sabe até beijos na nuca inspirando vida. Segue espalhando amor, semeando alegria, buscando ainda mais autoconhecimento. 

Foi-se o tempo em que tentava resistir. Passou, não mais. Agora a vida chama e ela vai. Não passa mais um dia sem respeitar suas próprias vontades. Cansou de quem não tá pronto pra vida. Cansou da superficialidade das relações. Agora trabalha apenas com conexões. Mentes que se entendem, olhares que se revelam, mãos que ajudam a segurar o mundo e a loucura que é estar aqui e viver tudo isso tendo que fingir lucidez. 


Vai, se entrega. Vai, sem medo. Vai e vai e vai e vai. Nessa vida de gente que chega e vai, transformou-se em nômade. Agora sempre vai, se quer mesmo ir. Mas sabe, no fundo, que de tudo isso, de tudo o que vai, de toda a impermanência, de toda a inconstância, quem sempre fica é ela. Sua pureza se preserva ainda que o mundo tente sujá-la com suas pressas e hipocrisias. Em meio a mentiras sinceras ou não, ela tem uma certeza: mesmo indo, suas verdades e princípios ficam. 

domingo, 25 de janeiro de 2015

Sem escape.

Vazio. Peito vazio. Eco e vastidão interna. Cabeça cheia, pensamento à mil. Por que tanto e sempre? Por que mais e outra vez? 

Setimento de impotência, de incapacidade. Desolada. Sem alento. Solidão impeirante. Parece que roubaram um filho seu. Parece que roubaram sua alma, seus sonhos, seus contatos e amigos. 

Sente frio, tristeza, solidão. Se sente sozinha, no meio de um nada, no meio de um caos, de uma guerra. Sem uma mão pra segurar, sem uma muleta que possa auxiliar seu caminhar. 

Ela que mal aprendeu a andar, tem que seguir sozinha um caminho que já não sabe nem mais qual é. 

Não existe caminho. Não existe escape. Não há saída. A única coisa que resta é enfrentar o monstro, o gigante e imponente que é sua mente. Seu carrasco mora dentro de si. Seus inimigos são seu pensar incessante e seu sentir tão intenso. O vilão de sua vida é sua mente, é ela mesma, é o superego e suas exigências.  

Não resta mais nada. Não há cura. Não há solução. É difícil salvar-se e voltar a superfície quando já se afundou tanto.  

É impossível a redenção quando o único herói, a única chance se ser salva é também o que a leva tão fundo: sua mente. Não há como cavar depois que já se está soterrado, debaixo do chão.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Serei sua pessoa amada por três dias.





Serei sua pessoa amada por três dias. Por três dias te dedicarei meus beijos, minhas carícias, minha alma. Por três dias te darei a mão, te darei abraços, te farei carinhos intermináveis na nuca. Por três dias passearemos por aí, sem rumo ou destino certo. Por três dias iremos à praia, ao cinema, ao bar ou apenas nos esconderemos do mundo e de todos debaixo de cobertas macias. Por três dias esqueceremos os problemas, esqueceremos as mágoas, esqueceremos o passado que vez em quando ainda machuca. Por três dias seremos pura sinceridade, olhos nos olhos, sorrisos que escapam sem mais nem porquê. Por três dias seremos amor, ainda que seja impossível o amor em tão pouco tempo. Por três dias seremos intensos, não pensaremos no amanhã e viveremos o hoje de forma tão plena que nossos peitos cansados ficarão como novos. Por três dias descobriremos sensações, compartilharemos segredos e iremos rir da banalidade do mundo e da superficialidade das relações. Por três dias seremos inteiros um com o outro, seremos unha e carne, feijão com arroz. Por três dias douraremos no sol, desbravaremos o mar e adormeceremos sob a luz da lua e das estrelas. Por três dias seremos todos os clichês que estamos cansados de ver em enredos baratos de novelas que só querem mais um ponto na audiência. Por três dias seremos só nós dois, sem nos importarmos com o resto do mundo. Por três dias seremos não um casal, mas cúmplices de um sentimento que só nós conheceremos. Por três dias iremos amar, sorrir, brincar, beijar beijos que não cansam, dar mãos que não querem soltar, caminhar lado a lado com passos calmos, sem a menor pressa de chegar.

Passados três dias, seguiremos nossas vidas. Cada um de volta ao seu mundo, às suas obrigações, aos seus amigos. Passados três dias ficarão apenas lembranças, memórias que não se apagarão, sorrisos espontâneos ao lembrar de momentos sublimes vividos lado a lado. Passados três dias, a realidade voltará acabando com o sonho, trazendo de volta o mundo.

Sou sua pessoa amada por três dias. Depois disso, continuo sendo puro amor, mas dessa vez sem mais ser sua.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Amor como se não houvesse amanhã.




Foi num sábado. Estava radiante! De férias forçadas (preferiu ver o desemprego como uma oportunidade de curtir um pouco o sol, a praia, o mar), estava feliz e satisfeita com a vida. Sem inquietações, coração limpo, mente aberta, corpo vibrando em energia.

Encontrou os amigos, o que seria da vida sem eles? Conversaram, riram, beberam, o de praxe, como sempre faziam. Celebravam um aniversário, mas pra esse pessoal, qualquer coisa é um grande e excelente motivo pra celebrar. A vida é na verdade uma grande celebração. Uma eterna alternância entre conquistas e decepções. A cada nova etapa, nada mais justo que comemorar.

Do churrasco, emendaram na boate. Ela estava linda, radiante! Há tempos não curtia tanto assim. Despreocupada como vez em nunca e despretensiosa como sempre. A vodca já fazia efeito. Dançava livre. Livre de ritmos, imposições, julgamentos. Dançava ao seu modo, leve e até desengonçado, mas digno de admiração. Nem aí para o mundo, conectou-se a si e consigo dançou incansavelmente.

Foi um daqueles momentos intensos, que nesse mundo de modernidades e pressas, assustam os que tão acostumados à superficialidade e segurança do sentir. Mas ela é assim. Cansou dos jogos, das hipocrisias, da falta de amor. Ela é toda amor. E não está nem aí pra quem não for.

Nessa noite, amou a si, do jeito que a música fala: "como se não houvesse amanhã". Desde então tem cultivado o sentimento. A cada manhã que chega, ama a si, de um jeito tão rico e intenso, que às vezes parece que não vai caber, até que vem o dia seguinte.

De amor, de dias seguintes e de amanhãs que chegam, vem levando a vida. Diz-se por aí que nunca foi vista com sorriso tão bonito e sincero.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Eu queria ser um grande circo.

Eu queria ser malabarista. Ter tudo sempre à mão. Por mais longe que as coisas possam ir, elas sempre acabarem voltando. Ter o controle sobre todas elas. Comandar a velocidade dos eventos que acontecem e a quantidade deles, para que tudo ocorra num ritmo dentro da minha capacidade.

Eu queria ser trapezista. Me lançar ao léu, sem medo, com riscos controlados, com a certeza de que de uma forma ou de outra tudo dará certo.






Eu queria ser acrobata aérea. Subir aos céus, voar, me lançar pelos ares. Virar borboleta com imensas asas de tecido.

Eu queria cuspir fogo. Lançar para fora de mim, sem volta, todos os medos, incertezas, arrependimentos e inseguranças.

Eu queria ser contorcionista. Dar um nó em todo o meu corpo, mas com a certeza de que a cabeça e o coração estariam livres de qualquer amarra.

Eu queria ser mágica. Fazer desaparecerem problemas, dúvidas e inquietações. Fazer aparecerem bons sentimentos. Transformar tristeza em felicidade, escassez em fartura, choro em sorriso.

Eu queria ser equilibrista, andar na corda bamba. Pender para um lado, pender para o outro, mas sempre conseguir voltar ao equilíbrio, lembrar que o meu próprio centro deve ser o centro do meu universo.

Eu queria ser palhaça. Errar, errar, errar de novo e fazer do erro minha morada. Saber rir de mim mesma, fazer piada dos fracassos e nunca, nunca desistir de tentar.

Eu queria fazer trampolim acrobático. Ter a cabeça nos céus, ir até quase o infinito, mas também voltar e botar os pés no chão.

Enfim, eu queria ser um grande circo. Ter uma vida itinerante, viajar para os mais diversos lugares, conhecer pessoas a cada novo espetáculo, emocionar o público, entreter, alegrar. Viver da magia, da ludicidade, dos encantamentos. E ainda, com tudo isso, ter uma imensa família que age junto, se completa e vai comigo aonde eu for.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Sobre escrever.



Escrever é falar com a alma. É deixar que se manifestem todos os anjos e demônios, toda a doçura e toda a loucura.

Escrever é vomitar engasgos que ficam travados na garganta. É livrar-se do pior que há dentro de nós e ver o nosso melhor se expor também.

Escrever é quase como sonhar: acessa os desejos e pavores mais profundos, que muitas das vezes estão no nosso inconsciente.

Escrever é reler depois e não ter bem muita certeza de que foi você o autor daquele texto.

Escrever é esclarecer, é confundir, é abrir feridas e cicatrizar machucados que parecem incuráveis.

Escrever é deixar sair toda a dor, é se despir de máscaras, é se apresentar nu, cru, como se é. É topar quebrar a cara, é assumir riscos, é não ter medo do ridículo.

Entre analgésicos, yoga, meditação, exercícios físicos, drogas e terapia, escrever ainda é o que mais cura dores da alma, o que mais completa a minha existência.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Continue curioso

A gente passa a vida desejando coisas. A vida nada mais é que uma sucessão de desejos, conquistas e fracassos.

Nem sempre a gente ganha, mas devemos ter a consciência de quem nem sempre perdemos também.

É normal quando algo "dá errado" (entre aspas porque as coisas no futuro sempre se explicam e vê-se que não foram erradas) nos desanimarmos, desmotivarmos, ficarmos pra baixo.

Não há nada de errado em ficar triste, abater-se, viver o luto de uma perda, de uma não conquista. A questão é apenas não prolongar esse luto, não permitir que ele paralise por tempo demais.

Todo mundo precisa e merece pequenas pausas para respirar e/ou rever o que falhou, o que deve ser mudado, melhorado.

Mas, além da pausa, é necessário seguir em movimento, seja em qual direção for.

É preciso sempre buscar novos ou velhos motivos, ideais, planos. Não importa onde eles irão nos levar, mas sim o quanto eles nos fazem caminhar, crescer, mudar, amadurecer.

Continue caminhando, continue curioso.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ser X Estar




"Ser ou não ser, eis a questão"
Com todo o respeito senhor Sheakespeare, não ser. 

Aos quatro cantos e ventos do mundo as pessoas vivem dizendo que são isso ou aquilo. Ou que fulano é isso ou aquilo. A verdade é que ninguém é nada.

Em português, diferentemente do inglês, ser e estar não são a mesma coisa. Usamos palavras distintas para verbalizar cada um. Mas acho que bastava o estar. O ser a gente podia esquecer, deixar pra lá. Quem é você? Quem sou eu? Essas são perguntas muito difíceis de serem respondidas.

É comum quando tenho que preencher minha profissão em algum formulário eu colocar: estudante. Se fosse falado eu diria "sou estudante." Mas peraí! Eu não SOU estudante. Eu ESTOU estudante. Se tudo der certo, em um ano estarei jornalista. Estarei porque nunca se sabe o dia de amanhã...

Ser exprime a ideia de algo constante, contínuo, até diria que imutável. Estar não. Estar soa como momentâneo. Em dado momento tal coisa está de um jeito. No momento seguinte pode estar de outro sem que se exija maiores explicações.

Eu não sou jovem, estou jovem. Mas já estive feto, bebê, criança, adolescente... talvez um dia esteja adulta e velha. Não sou magra, estou magra, mas também já estive gorducha, assim como já estive 'Olívia Palito'. Eu não sou morena, já estive morena, já estive até mesmo preta. Hoje em dia o máximo que consigo é deixar de estar pálida, mas ando cultivando o descolorido escritório, infelizmente. Mais ainda, não sou surda, estou surda. Nasci ouvindo perfeitamente bem, mas ao longo da vida fui perdendo a audição e, com o avanço tecnológico, no futuro posso estar ouvinte de novo, quem sabe?

Foram só alguns exemplos pra mostrar que as coisas não são, estão. E isso não acontece apenas conosco. O céu mesmo... agora à noite está escuro. Mas quando amanhecer estará claro.

Tudo isso me faz pensar que, já que temos a licença de podermos apenas estar, devemos aproveitar ao máximo tudo. Cada momento de estar é único. Cada estar merece sua contemplação, de preferência antes que passe. Afinal, estamos vivos agora, mas nunca saberemos quando estaremos mortos.

domingo, 11 de agosto de 2013

A luzinha interna em neon.





Hoje li um artigo sobre pessoas que abandonaram suas vidas e empregos tradicionais e resolveram ir atrás do que realmente as motiva. Achei lindo, maravilhoso, digno. E o assunto não saiu da minha cabeça.

Tenho vinte e três anos, já mudei de faculdade uma vez e de ideia mais de mil. Me sinto satisfeita com o que curso agora. Mas ainda assim, inquieta que sou, fico sempre cheia de dúvidas, inseguranças e incertezas.

Queria que tivesse uma coisinha bem lá no fundo que brilhasse e piscasse em neon: "É isso!", "Vai que é tua!", "Arrasa!", "Mostra ao mundo a que veio!". Mas só tem uma luz bem fraquinha que diz "De repente dessa vez dá certo!" "Pode ser que seja isso...", "Se as coisas se desenrolarem bem, com sorte e dedicação pode ser que você consiga". E isso me mata.

É muito angustiante acordar a cada dia para trabalhar, ir a faculdade, estudar e tudo o mais sem ter ao menos um plano, uma meta. E se nada der certo? Se não tenho o plano A, quanto menos o B.

Não é questão de preguiça. Faço estágio, cumpro horários e sempre que tenho espaços vagos, mesmo que nos finais de semana, tento descolar mais um trabalhinho. Sei dar valor ao dinheiro, as conquistas. Tenho pai e mãe que me criaram e educaram muito bem. Nunca deixaram faltar nada, de comida à amor. Mas sei que foi tudo com muito esforço. Dou muito valor e me considero uma pessoa de sorte por isso.

E agora, adulta (já? A criança pequena ainda chora e pede colo aqui dentro), chegou a minha vez de me dedicar a tarefas, obrigações e empregos. Acho que sou muito lúdica e sonhadora. Mas eu só queria mesmo conseguir encontrar o que realmente me move. Sempre lembro da frase "Trabalhe com aquilo que você ama e não terá que trabalhar nenhum dia." e fico aflita tentando descobrir o que pode ser.

Mas a vida é isso, não é mesmo? Constante busca pela felicidade. O importante é permanecer curioso, "não acomodar com o que incomoda", fazer jus à oportunidade diária que temos de ser a mudança, de fazer a mudança, de corrermos atrás não apenas da nossa felicidade, mas do bem coletivo do espaço em que vivemos.

Então vamos lá. Noite ou dia, uma hora a luzinha de neon vai acender bem extravagante "Tu achaste! É isso mesmo!".

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os melhores dias.



Despertador ativado. É fim de semana mas mesmo assim vale apena dormir um pouco menos e acordar cedo. Um banhozinho, o café da manhã de sempre ou um pouco mais reforçado e é hora de escolher o figurino do dia. Figurino sim, indumentária. Acessórios sempre caem bem. A maquiagem especial, lembrando sempre que o sorrisão estampado no rosto é o que faz a maior diferença. Tudo certo, hora de ir ao encontro de mais centenas, até mesmo milhares (por que não?) de indivíduos que estão com esse mesmo sentimento inquieto e eletrizante. Música, afetos, galanteamentos, brincadeiras, cores que não se acabam. Euforia mil. Confete, serpentina, purpurina. Até armas entram nessa, munidas com água ou aguardente, ao gosto do freguês. São dias de muita folia, de festejos escancarados e alegria exacerbada. Contrariando a máxima de que 'tudo em excesso faz mal', os demasiados sorrisos, energia e felicidade curam. Curam almas doentes, cansadas, envelhecidas. Por isso eu digo: bem vindo ao mundo do Carnaval. Aqui você pode ser rei, rainha, guerreiro, fada, duende e o que mais sua imaginação permitir. Pra entrar nessa, você só precisa de um pouco de ânimo e muuuuuita, muuuuita vontade de compartilhar afetos, sorrisos e FELICIDADE! Vem folia, venham festejos, venham blocos e mais blocos, veeeemmmm CARNAVAL!!!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Aos 20.



Eu tentei correr. Eu tentei fugir, me esconder. Quando me perguntavam, tentava disfarçar. Dava apenas um sorrisinho sem graça. E confesso, em momentos de fraqueza, cheguei a mentir.
Aí, vi que não ia dar. Uma hora ia ser pega. Num segundo momento, resolvi relaxar, esquecer, deixar pra lá. Fingi que não estava nem ligando. Como dizem: deixei rolar. E o inevitável aconteceu: fui pega. Ingenuidade minha achar que, diferentemente de todos, comigo não fosse acontecer. Besteira achar que ia escapar.
Ela chegou. E chegou prepotente, imperante. De salto agulha, 15 cm. E não veio sozinha. Trouxe com ela seus companheiros inseparáveis. Eu sabia! Eu sabia! Deveria saber. A Idade nunca vem sozinha. Smpre chega com tudo, trazendo junto consigo muitos aliados. Chegou junto com a Culpa, o Arrependimento, a Responsabilidade.
Me vi encurralada. Não tinha mais pra onde correr. Já sem forças para lutar, resolvi aceitar. Já dizia o ditado: "se você não pode deter os seus inimigos, alie-se a eles". E foi o que fiz. Resolvi assumir. Tenho 20 anos a partir de agora. Sou uma (quase) adulta.
Acho que o que mais me apavora e entristece é ver que todas as minhas crenças não passavam disso: crenças bobas. A vida inteira, nesses 19 anos que já se passaram, acreditei que aos vinte anos eu seria uma adulta responsável e compromissada. Com vinte anos, eu pensava, vou estar pelo menos na metade da faculdade, com um CR digno de dar inveja e estagiando em uma multinacional, ocupando uma vaga concorridíssima, merecidamente conquistada. Com vinte anos, estarei morando sozinha, em um apartamento pequeno, mas lindo e aconchegante, todo decorado ao meu gosto, super limpo e organizado, onde só entrarão as pessoas que eu quiser. Com vinte anos, serei independente, não precisarei do carinho e atenção da minha mãe 24horas por dia. Me refiro aqui também a total independência financeira, muitos mil no banco, dirigindo um carrão. Terei uma saúde invejável. Serei rodeada de amigos de verdade e eventos sociais. Terei um namorado cobiçado por todas, mas extremamente apaixonado por mim. E claro, serei linda, charmosa, educada, com um corpo e cabelos perfeitos, super cobiçada também e com olhos apenas para o meu namorado.
E agora, diretamente dos 20, percebo que disso tudo, só tenho mesmo uma menia dúzia de amigos de verdade, sem querer desmerecê-los. Todo o resto? Pura ilusão. O que me entristece é saber que nada do que sonho para os 30, 40, 50... vai se concretizar também.
Infelizmente a vida não dá mole, não é fácil. E o pior, os 30, 40, 50 virão em um piscar de olhos. Não me darão nem tempo de parar para pensar neles. E mais uma vez não terei como fugir. O jeito é tentar novamente relaxar. A partir de agora, com muita calma e cuidado, viver um dia de cada vez.

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra." Mário Lago

TEXTO ORIGINALMENTE ESCRITO EM 16/05/2010

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A tal coisa dos best sellers.



Quem a vê passando nem imagina. Ela sempre carrega um sorriso estampado no rosto, um ar de calmaria e um olhar instigante. Quem bate um papo leve com ela pode jurar que ela é super feliz e bem resolvida. Quem a vê nas noites chega a ter inveja do tanto que ela parece se divertir. Dança, canta, bebe e fala com todos como se coisas melhores não houvessem no mundo.
Mas se alguém fosse capaz de perfurar todas as suas armaduras e escudos que usa para repelir o mundo a fim de evitar mais dores e decepções pra sua coleção que lota as prateleiras de seu quarto, veria que a realidade é bem diferente. Ela tenta passar a imagem de mulher, de adulta, mas não passa de uma menininha indefesa, com medo da vida, dos monstros que podem invadir seu quarto e aterrorizá-la.
Ela é frágil, sentimental, impulsiva, inquieta e completamente indecisa. Por trás de toda a aparente autoconfiança, existe uma menina que luta consigo mesma e com as mil e uma que pode ser ao mesmo tempo pra tentar achar e descobrir como que se faz pra ter aquela coisa que os best sellers de auto-ajuda vivem dizendo ser essencial para o sucesso. Como é mesmo o nome?? Ah, amor próprio. Se questiona até não aguentar mais. Não conhece nem o amor, que dirá o amor próprio. Amor de mãe vale? É o único que ela acredita ter alguma noção do que seja, depois de já ter se enganado tanto achando que uns frios na barriga e umas palpitações mais fortes pudessem ser de fato esse tal de amor.
No fundo, nem ela conhece a si mesma. Tem tentado aprender como se vive e se relaciona. Cada dia vivido é considerado uma aula, uma oportunidade de descobrir novas coisas, caminhos, sensações e sentimentos. Eterna aprendiz da vida, eterna questionadora do mundo, eterna idealista de utopias inalcançáveis. Vive com a cabeça nos ares. Se reparar bem, dá pra ver que na verdade ela está fora desse mundo. Seu universo à parte é mais interessante. Mas ninguém tem tempo para um olhar mais detalhado. Ninguém desconfia. É seu segredo. Só pode conhecer seu mundo quem se mostrar digno de seu convite.
O que acontece é que esse tal de amor-próprio tá tão na moda, que as pessoas esqueceram de olhar de verdade umas pras outras e só conseguem enxergar a si mesmas. Desse jeito, seu segredo ficará pra sempre conservado, uma vez que um olhar atento, um carinho mais longo e um afeto real são coisas cada vez mais raras de se encontrar.

domingo, 18 de novembro de 2012

A rainha.



No dia dezoito de novembro de 1957, nascia uma rainha. Não uma rainha tradicional, de família real, com direito a coroa, trono e sangue azul. Mas uma simples menininha que nasceu para brilhar.
Sua casa era humilde, sua família pobre e sua infância não foi das mais fáceis. Desdobrava-se em várias para dar conta de cuidar dos irmãos mais novos, dedicar-se ao colégio (era a melhor aluna da classe!), colaborar com os afazeres domésticos e ainda, de quebra, arranjar um tempinho para pequenas travessuras típicas da idade.
Já na fase adulta prosseguiu trilhando caminhos de sucesso. Não foi fácil, mas conseguiu formar-se na faculdade, fez especializações e trabalhou duro, sempre guerreira, sempre forte.
Aos trinta anos, engravidou de sua filha mais velha e aos trinta e um, dessa praguinha que vos escreve.
A rainha sempre diz que eu, juntamente com minha irmã, sou o maior presente que ela podia ganhar em vida. Discordo. Só trago dores de cabeça, eu sei. A verdade é que ela sim é o maior presente que tenho. Não sei se mereço tanto. Tenho a maior sorte do mundo  por tê-la ao meu lado.
Hoje, a rainha completa 55 anos de sucesso e reinado. São muitas conquistas já feitas, muito afeto compartilhado e as melhores intenções distribuídas. Sem coroa ou jóias de valor, possui o mais importante: amor pela vida.
Parabéns, mãe, por ser esse exemplo, esse espelho, por tanta dedicação e paciência comigo. Somos muito diferentes e pensamos de maneiras muito distintas e ainda assim sei que você se esforça pra me entender e respeitar esse meu jeito tão difícil. Hoje, e em todos os dias e momentos e segundos, eu só posso te desejar o melhor. Mais conquistas, mais sucesso, mais saúde, mais felicidades, mais praia, mais sol, mais viagens, mais comidas gostosas, mais amor de filha, mais amor em geral... mais de tudo o que há de maravilhoso. Você merece o mundo!!!!
Sem nome real, trono ou castelo, você é, ainda assim, a maior rainha que existe. Seu reinado é sua existência e eu serei eternamente sua súdita!
Te amo.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O espelho.



Era sábado a noite. Tomou um banho com calma. Sentiu cada gota penetrar seu corpo. Esfregou os cabelos, ensaboou-se e ficou mais uns minutos desfrutando do prazer que sentia. Imaginava que a água lavava não só seu corpo, mas seus problemas. Gostava de pensar que por aquele ralo desciam muito mais que o shampoo, o condicionador, o sabonete e as sujeiras diárias. Pensava em todas as suas dúvidas, tristezas e incertezas e as via diluindo-se junto à água, indo embora para não mais voltar. Sabia que não era assim, que infelizmente as coisas não funcionavam dessa maneira. Mas enganar-se por alguns minutos era poder fugir e sentir-se livre de todas as correntes mundanas.
A toalha macia e cheirosa enxugou cada cantinho de seu corpo, cada pedaço de sua pele. Vestiu-se com calma, admirando-se. Nos cabelos, outra toalha permaneceria durante mais algum tempo. 
Não tinha planos ainda. Não sabia o que ia fazer. Talvez poderia encontrar os amigos para conversar e beber algumas doses de felicidade barata e fugaz. De repente, poderia ligar  para mais um daqueles meninos que aparecem e desaparecem e que ela resolve tirar do fundo da bolsa vez em quando. Enquanto pensava qual poderia ser a melhor opção, cuidava de si como se fosse uma princesa.
Cada detalhe de seu corpo recebia um carinho e uma atenção especiais. Para os olhos, resolveu usar os rímeis, lápis e delineadores novinhos em folha que tinha comprado de presente para si. Marcou bem sua expressão. Nem muito sombria, nem muito alegre. Misteriosa na medida. O batom vermelho coloriu os lábios e deu o ar de mulher fatal. As maçãs do rosto receberam uma pequena pincelada de blush, pequena mesmo, pois ela já estava satisfeita com seu bronzeado. E assim foi cuidando de cada pedacinho seu.
O processo demorou mais que o costume. Geralmente, ela se arrumava bem rápido, mal prestava atenção no quanto seu colo era bonito, por exemplo.
O resultado foi radiante. Nem mesmo ela estava se reconhecendo. Fazia tanto tempo que não se aprontava com tanta dedicação. Surpreendeu-se ao ver que já estava mais para mulher que para menina. O espelho revelava que por cima de tanta confusão e inquietude, ela podia se mostrar uma mulher forte e bem resolvida.
Depois de pronta, começou a ponderar. "Ligo para as meninas e combino mais um sábado como todos os últimos?" Achou que não devia. Pensou que deveria dar uma inovada. "Que tal, então, aquele cara que costumava ser legal comigo?" Desistiu da ideia também. Ela merecia mais que alguém que aparecia quase tanto quanto a lua nova. Ainda insistiu pensando em um ou outro caso ultrapassado, mas percebia que não era daquilo que precisava.
Resolveu então, inesperadamente, que sairia sozinha. Pensou que estava realmente maravilhosa, que havia de fato se dedicado muito a ficar assim. Achou que, apesar de todas as inseguranças e incertezas, ninguém além dela merecia tanto.
Pegou sua bolsa, calçou os sapatos, guardou as chaves e deixou o celular em casa. Saiu sem rumo pelas ruas, percorrendo calçadas e esquinas com o mais genuíno dos sorrisos. A noite estava bonita, a brisa agradável. Deixou-se levar pela vida. Deixou-se perder pela madrugada. Nada melhor que perder-se um pouco depois de finalmente encontrar-se.