quinta-feira, 26 de março de 2015

Jogo da vida.




Preciso me encontrar. Preciso me contar. Preciso achar a saída. Há realmente uma saída? Ou a vida é esse labirinto eterno e sem fim que a gente roda, roda, roda e quando vê tá no mesmo lugar, perdido de novo. E aí a gente descansa um pouco, tenta recuperar a força, a esperança, a fé e recomeçar a andar. Cruza à direita, à esquerda, depois direita novamente e vai indo nessa por aí, sem fim, até parar, de novo, no mesmo lugar. Ou até achar a saída, se houver mesmo saída nesse jogo.

É um jogo realmente. E é um jogo bem difícil. Iniciantes caem logo, perdem, desistem. Tem que ser perseverante e acreditar. Tem que ter fé, se não rapidinho o jogo cansa e dá vontade de pedir pra sair da partida. Voltar em uma outra de repente, num jogo novo em que haja possibilidade de ganhar.

É isso, a vida é um jogo mas eu me recuso a jogar. Talvez tenha nascido com algum déficit que faz com que eu não entenda as regras, com que eu não consiga seguir as regras. Por mais que cheguem e falem e me expliquem e repitam e tentem ter paciência comigo, não consigo entender. Acho que entrei no jogo já no modo hard, só pros experientes, quando sou uma novata iniciante que devia tá na baby class, na parte do treino ainda.

Mas é o que dizem por aí: jogo é jogo, treino é treino. O treino acho que eu vivi quando era feto ainda, ali era tão simples. Ali eu entendia o jogo. Ou não. Mas não entender não fazia a menor diferença, não causava a menor preocupação. Era só ficar ali, flutuando, recebendo nutrientes.

Quando passei de fase e cheguei no modo de jogo pra iniciantes, na infância, continuei jogando direitinho. Se não entendia as regras, ao menos as seguia sem pestanejar. A regra agora é brincar? Sorrir? A regra é ir pro colégio, fazer coleguinhas, respeitar os pais? Tá bom, eu consigo. Joguei essa fase numa facilidade absoluta, e acho que por isso que passei tão rápido pra parte da dificuldade moderada.

Acho que foi quando cheguei aí que comecei a questionar esse jogo e essas regras. Comecei a achar que o jogo não tem o menor sentido. Pra quê tudo isso? Por que eu tenho que jogar desse jeito, que nem todo mundo joga? Colégio, escolher a faculdade, arranjar um namorado, fazer mais amigos, ir à festas... tenho mesmo que fazer tudo que todo mundo faz só pra não ser eliminada como perdedora? Ou pior, ser mandada pro chefão e ficar por lá eternamente sem conseguir passar por ele porque simplesmente não me dá a menor vontade de passar por ele?

E aí, sem nem conseguir jogar no moderado, me mandaram pro avançado. Não faço ideia de como cheguei aqui. Só deveria ir pro avançado quem consegue acompanhar o jogo, entender as regras e não questionar tanto tudo. Só devia ir pro avançado os realmente aptos a isso. Mas agora to aqui, nessa parte tão difícil sendo que nem no moderado eu aprendi e consegui jogar.

Posso dar um pause no jogo? Posso resetar? Voltar e fazer tudo de novo, tentar achar um jeito de ficar lá no iniciante, que era bem mais fácil. Não gosto de jogos difíceis. Gosto menos ainda de jogos cheios de regras inúteis, idiotas e que não servem pra nada a não ser mostrar pros outros que você joga também, que você pode ser melhor que ele, ultrapassá-lo.

Chega, por favor! Não quero mais brincar, não quero mais jogar. Esse jogo não tem saída, é sem fim e com regras absurdas demais. Posso dar um game over? Deixa eu escapar desse jogo. Cansei. Joguem sozinhos, tô pulando fora.

É difícil se recusar a jogar. A maioria absoluta de jogadores natos te veem como um ET. Mas às vezes não é nem questão de escolha. Sei lá. Minha alma não consegue, eu não consigo. Tô tentando na minha cabeça, na minha vida (não nesse jogo que é a vida que todo mundo vive), criar um modelo novo, uma nova forma de jogar. Mentira. Não quero mais jogo nenhum. Não quero regras. Que cada um siga seus instintos, seus pensamentos, seus sentimentos, sua intuição. Desde que respeitando o amigo, seja ele mais um jogador aficionado que não se importa em ficar jogando com esse bando de regra inútil, seja ele alguém que também não entende pra que tanta norma a ser seguida.

Que sigamos com a vida, mas sem mais jogos. Que sejamos apenas pessoas, humanos, com virtudes e fraquezas e não apenas jogadores manipulados.

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