terça-feira, 31 de março de 2015

Tudo inverso.






Falta educação. Falta escola. Falta saúde. Falta afeto. Falta teto. Falta família. Falta comida. Falta água. Falta lazer, diversão e arte.

Sobra preconceito. Sobra segregação. Sobra racismo. Sobra desigualdade. Sobra violência. Sobra hipocrisia. Sobra oportunismo. Sobra comida no prato, mas vai pro lixo e não pra quem tá com fome.

Ficam olhares raivosos. Fica a lei da rua. Na falta de respeito pela vida, sobra coragem de se arriscar. Quem já não tem nada, não há porque temer o que perder.

Há liberdade. Há impunidade. Há mesmo? Há justiça? Há vingança. Há ódio. Há sangue nos olhos. Há justiçagem. Há playboy vendendo droga. Há esse mesmo playboy espancando a criança negra e pobre que tentou roubar o que a vida nunca lhe deu.

Há o colarinho branco sonegando impostos. Há a corrupção desenfreada. Há o descaso com as empregadas domésticas. Há a raiva e o vulcão em erupção bradando pela redução da maioridade penal.

Há prisões lotadas. Há processos arquivados. Há quem ache que a solução pro ódio é mais ódio. Há quem ache que a solução pra violência é mais violência.

Todos vivem a guerra urbana, onde a vitória sempre tende pro lado do mais abastado. Há a luta diária por um prato de comida. Há quem se drogue porque não existe a menor perspectiva, a mínima educação, nenhum afeto, nenhum discernimento. Há quem se drogue pra ser descolado, pra ser aceito, pra ser temido. E esses segundos são os primeiros a apontar o dedo praqueles outros.

Há um caos. Há um mundo ao contrário. Há tudo muito errado. Há quem ache que um erro justifica outro. Há quem apoie que dois erros formam um acerto. Cada dia a civilização fica mais atrasada. Cada vez os moderninhos são mais conservadores. Cada dia o contemporâneo fica mais medieval.

Onde estamos? Que mundo estamos? Que ano é esse? Ainda vivemos em sociedade? Já tá valendo a lei da selva. Ganha o mais forte (mais endinheirado). E os outros, bom, os outros que se lasquem, que se matem uns aos outros, que continuem sujando suas mãos. Porque os ricos, bem, os ricos se sujam por inteiro, mas depois tomam um banho quente numa banheira imensa e saem limpinhos pra apontar dedos enrugados da água a quem nem acesso a ela tem.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Jogo da vida.




Preciso me encontrar. Preciso me contar. Preciso achar a saída. Há realmente uma saída? Ou a vida é esse labirinto eterno e sem fim que a gente roda, roda, roda e quando vê tá no mesmo lugar, perdido de novo. E aí a gente descansa um pouco, tenta recuperar a força, a esperança, a fé e recomeçar a andar. Cruza à direita, à esquerda, depois direita novamente e vai indo nessa por aí, sem fim, até parar, de novo, no mesmo lugar. Ou até achar a saída, se houver mesmo saída nesse jogo.

É um jogo realmente. E é um jogo bem difícil. Iniciantes caem logo, perdem, desistem. Tem que ser perseverante e acreditar. Tem que ter fé, se não rapidinho o jogo cansa e dá vontade de pedir pra sair da partida. Voltar em uma outra de repente, num jogo novo em que haja possibilidade de ganhar.

É isso, a vida é um jogo mas eu me recuso a jogar. Talvez tenha nascido com algum déficit que faz com que eu não entenda as regras, com que eu não consiga seguir as regras. Por mais que cheguem e falem e me expliquem e repitam e tentem ter paciência comigo, não consigo entender. Acho que entrei no jogo já no modo hard, só pros experientes, quando sou uma novata iniciante que devia tá na baby class, na parte do treino ainda.

Mas é o que dizem por aí: jogo é jogo, treino é treino. O treino acho que eu vivi quando era feto ainda, ali era tão simples. Ali eu entendia o jogo. Ou não. Mas não entender não fazia a menor diferença, não causava a menor preocupação. Era só ficar ali, flutuando, recebendo nutrientes.

Quando passei de fase e cheguei no modo de jogo pra iniciantes, na infância, continuei jogando direitinho. Se não entendia as regras, ao menos as seguia sem pestanejar. A regra agora é brincar? Sorrir? A regra é ir pro colégio, fazer coleguinhas, respeitar os pais? Tá bom, eu consigo. Joguei essa fase numa facilidade absoluta, e acho que por isso que passei tão rápido pra parte da dificuldade moderada.

Acho que foi quando cheguei aí que comecei a questionar esse jogo e essas regras. Comecei a achar que o jogo não tem o menor sentido. Pra quê tudo isso? Por que eu tenho que jogar desse jeito, que nem todo mundo joga? Colégio, escolher a faculdade, arranjar um namorado, fazer mais amigos, ir à festas... tenho mesmo que fazer tudo que todo mundo faz só pra não ser eliminada como perdedora? Ou pior, ser mandada pro chefão e ficar por lá eternamente sem conseguir passar por ele porque simplesmente não me dá a menor vontade de passar por ele?

E aí, sem nem conseguir jogar no moderado, me mandaram pro avançado. Não faço ideia de como cheguei aqui. Só deveria ir pro avançado quem consegue acompanhar o jogo, entender as regras e não questionar tanto tudo. Só devia ir pro avançado os realmente aptos a isso. Mas agora to aqui, nessa parte tão difícil sendo que nem no moderado eu aprendi e consegui jogar.

Posso dar um pause no jogo? Posso resetar? Voltar e fazer tudo de novo, tentar achar um jeito de ficar lá no iniciante, que era bem mais fácil. Não gosto de jogos difíceis. Gosto menos ainda de jogos cheios de regras inúteis, idiotas e que não servem pra nada a não ser mostrar pros outros que você joga também, que você pode ser melhor que ele, ultrapassá-lo.

Chega, por favor! Não quero mais brincar, não quero mais jogar. Esse jogo não tem saída, é sem fim e com regras absurdas demais. Posso dar um game over? Deixa eu escapar desse jogo. Cansei. Joguem sozinhos, tô pulando fora.

É difícil se recusar a jogar. A maioria absoluta de jogadores natos te veem como um ET. Mas às vezes não é nem questão de escolha. Sei lá. Minha alma não consegue, eu não consigo. Tô tentando na minha cabeça, na minha vida (não nesse jogo que é a vida que todo mundo vive), criar um modelo novo, uma nova forma de jogar. Mentira. Não quero mais jogo nenhum. Não quero regras. Que cada um siga seus instintos, seus pensamentos, seus sentimentos, sua intuição. Desde que respeitando o amigo, seja ele mais um jogador aficionado que não se importa em ficar jogando com esse bando de regra inútil, seja ele alguém que também não entende pra que tanta norma a ser seguida.

Que sigamos com a vida, mas sem mais jogos. Que sejamos apenas pessoas, humanos, com virtudes e fraquezas e não apenas jogadores manipulados.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Exposta.




Tô cansada de assustar. Tô cansada desse mundinho banal e falso. De sorrisos pela frente e a faca pelas costas. Tô cansada de ser a louca só porque sou verdadeira. É isso aí. Não dá, desculpa, não consigo. Nem quero, na verdade. Não vou me conter ou fingir que não tô nem aí quando já to muito mais aí do que aqui. Não vou ficar quieta e calada se eu tiver algo pra falar. Não aguenta ouvir? As portas estão abertas.

Eu sempre acabo estragando tudo por falar demais, por me expor demais, por me mostrar demais. Mas eu não aguento, não consigo ficar no joguinho de ego e orgulho e superficialidade. Não aguento as desculpas e os falsos discursos, que tão na cara que são falsos. Não vem falar que tá com saudade quando sei que é mentira. Não vem dizer que quer me ver se não é capaz de se mover um centímetro pra isso. Não vem falar que vai me salvar quando na verdade vai colaborar pro contrário. Não transforma minha vida num quarto quentinho e bom e gostoso e silencioso e aconchegante, pra no momento seguinte fazer virar um casarão abandonado, cheio de teias de aranha, mofo e insetos.

Quer ficar, fica. Mas fica sem desconfiança. Fica e mostra que quer ficar. Porque pra ficar mas querer fingir que tá indo e fazer esse ir e vir e ir e vir eterno eu não quero não. Eu que vou então. Eu não quero nenhuma certeza, não quero nenhuma promessa, não quero nenhum rótulo. A única coisa que peço é honestidade, sinceridade. Peço que quando tiver por aqui, que esteja por aqui de fato, esquecendo de todo o resto. Peço que só me encontre se realmente estiver afim de me ver. Que converse e se interesse verdadeiramente e não só pra fingir que se importa. Peço que não esconda, que não se esconda, que não me engane. Não quero mais que um colo quentinho, um ombro amigo, palavras sinceras, olhares doces e mãos dadas que ajudam a atravessar essa incerta caminhada.

Da minha parte, continuo assim, sendo verdadeira, respeitando minhas vontades. Se não aguenta com a verdade, se não posso falar o que acho, o que sinto, o que penso, não fique. Mas se você suporta, se você também não sucumbe a esse jogo idiota, vem aqui mais perto, senta do meu lado, vamos falar besteiras, sorrir sem motivo, dormir abraçado e acordar feliz. Vem, vem hoje, fica por hoje. Amanhã, amanhã não sei. Amanhã a gente vê. Amanhã tá muito longe ainda. Deixa o amanhã pro amanhã. Mas hoje, vem, por favor.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Para de fugir.




- Não é nada disso que você está pensando.

- Como assim? Eu não to pensando em nada além de te dar uns beijos, fazer uns carinhos, olhar seu sorriso que me faz sentir coisas puras.

- Você sabe do que eu to falando, não vem de conversinha pra tentar disfarçar.

- Não, eu não sei.

- Eu não sou esse tipo de mulher. Nada contra, às vezes até preferiria ser. Mas não sou, paciência...

- Que tipo? Porque pra mim você faz exatamente o 'tipo' que gosto, se é que isso existe. Meio tímida, meio extrovertida; louca mas com uma lucidez que me impressiona; inteligente e divertida. Isso sem falar no quanto você é atraente, melhor eu não entrar nesses méritos, se não posso perder as estribeiras.

- Você fala essas coisas e acha que me engana. Aposto que fala isso pra todas. Aposto que é mais um papinho furado pra me iludir.

- Eu não tenho porque mentir, nem porque querer te iludir. Me ofende até você pensar isso. Não vê que eu tô na tua? To louco por você, garota. Para de querer criar obstáculos só porque tá com medo de sentir de novo.

- Para você de achar que sabe tudo. Eu não tenho medo não, tá? Já quebrei a cara tantas vezes, uma a mais, uma a menos, acho que nem faz diferença.

- Então por que fica nessa defensiva? Sei que não é joguinho, não faz seu estilo. Você é verdadeira demais pra cair nessas ladainhas idiotas. Mas você não se deixa levar. Fica se prendendo, querendo trancar suas vontades em um cofre e jogar a chave no meio do oceano.

- Não me deixo levar porque não tem aonde ir, só isso. Me deixa ser como sou.

- Aí você se engana. Tem tanto lugar pra irmos. Aceita meus convites. Vamos naquela praia mais reservada, naquele restaurante novo que eu sei que você tá doida pra conhecer. Um fim de semana em Ilha Grande, pra gente curtir muito a natureza e essas coisas que você gosta. Nossa, tem muito lugar, muita coisa. Deixa eu te levar, só isso. Não me pergunta pra onde, nem quando ou por quê. Só vem, confia, não vou te decepcionar!

- Até que esses programas que você falou me deixam empolgada só de pensar! Mas não sei... a gente não tinha combinado que ia devagar?

- Criatura, não existe essa de ir devagar ou rápido. Existe ir, curtir, se deixar levar, se permitir. Eu não to te pedindo pra casar comigo, nem quero casar nunca na verdade. Só quero aproveitar sua companhia, só quero poder ter mais noites dormindo com um sorriso nos lábios lembrando nossos momentos divertidos em mais um passeio maluco. Só quero poder ainda muitas vezes me encantar com a carinha desconfiada que você faz quando faço mais uma das minhas piadas sem graça. E te ver sorrir, porque o seu sorriso é o que faz valer meu dia....

- Não posso com você, não é? Onde você aprendeu a falar tanta coisa bonita? Para de acertar tudo o que eu quero escutar.... parece que você me conhece mais que eu mesma e tem só o que? Umas duas semanas?

- Pára de ser boba de uma vez. Fica aqui. Vem cá pra perto, chega de fugir. Vem logo pro meu abraço, se aconchega aqui e vamos mais uma vez ver o tempo passar sem ver o tempo passar. Fica.

- Meu medo é acabar ficando pra sempre. Mas já tô ferrada mesmo, já era né? Jogo ganho pra você... Que que a gente vai fazer hoje à noite? Porque não quero mais saber do amanhã....

sexta-feira, 13 de março de 2015

O jogo da ditadura da felicidade.



Sou só eu? Ou mais alguém por aqui tem coragem de assumir? Sou só eu ou tem mais alguém que não aguenta mais a ditadura da felicidade? Ficar triste vez em quando virou doença, é demodê. Todo mundo tem sempre que tá feliz e com um sorriso no rosto e distribuindo afetos e cantarolando e assobiando e.

Mas você deixa? Posso ficar um pouquinho triste? Posso ficar reflexiva? Posso ficar um pouco no meu mundo e esquecer o que passa aí por fora? Posso ser eu de verdade sem as máscaras que o convívio social e a ditadura da felicidade tentam impor pra mim?

Deixa eu sofrer porque estou com quase vinte e cinco anos, nenhum centavo no banco, sem emprego, sem nenhuma grande conquista, sem nenhum bom feito pro mundo. Deixa eu sofrer um pouco por isso sem vir correndo mandar eu ter calma e falar que tudo vai se ajeitar, que ainda tô muito nova e que não tem porquê tanto drama e tanta preocupação.

Eu sei, eu sei. Minha vida é ótima. Tenho pais vivos e que me amam, tenho amigos que me rodeiam, tenho uma casa onde posso todos os dias tomar banhos e limpar as sujeiras do mundo, tenho uma cama onde posso me refugiar de tudo e todos, tenho sempre pão quentinho na mesa posta. Eu sei, realmente a minha vida é boa pra caramba.

Eu não faço vaga ideia do que é acordar, tomar café da manhã mas saber que janta não vai ter. O que é acordar, não ter café da manhã e janta menos ainda. O que é ter que ficar com a mesma roupa por dias e dias sem tomar um único banho. Eu não faço vaga ideia do que é não ter uma cama macia pra desabar quando o mundo parece pesar demais sobre os meus ombros. Eu não consigo nem imaginar o que é viver sem pais, o que é viver sem saber o que é amor, carinho e compaixão.

Só que tudo isso, em vez de deslegitimar meu sofrimento, o potencializa. E sofro mais ainda por sofrer por coisas tão fúteis e ridículas e banais como ter quase vinte cinco e agir como quem tem dezessete.

E eu me acho tão cool e descolada e livre de preconceitos. Só porque sou amiga do ambulante, só porque converso pra caramba com a moça da faxina, só porque cumprimento sempre o meu porteiro. Como se nada disso fosse normal ou corriqueiro. Me acho destemida por andar pelas madrugadas sem medo, pegar ônibus pra cima e pra baixo a hora que for.

Mas me bota pra ir sozinha pegar ônibus na Central do Brasil. A garotinha tão cool e destemida chega a chorar com medo, com o choque de realidade de milhares de crianças que mal devem saber falar cheirando tíner e com um olhar já malicioso. E a polícia dando uma dura em outros moleques. E todo aquele ambiente que parece tão hostil, mas que, infelizmente, não passa da dura realidade. E aí, saindo da bolha, eu consigo ver o quão pequena sou, o quão igual sou a qualquer outra acéfala garotinha da zona sul.

E mais sofrimento por não fazer nada pra mudar essa realidade. E o mundo pedindo, implorando pra eu jogar o jogo dele, pra eu fingir que não me importo, pra eu voltar pra minha bolha e viver na ditadura da felicidade como todos que me cercam e fazem parte do meu convívio social.

Vai lá, Tati. Toma um copo d'àgua, lava esse rosto. Não olha pra todos os lados, olha pra esse nosso mundinho só. Olha pra sua vida que é quase de comercial de margarina. Vem, bota uma roupa bonita, maquia esses olhos pra esconder que muitas lágrimas caíram deles, veste aquele seu sorriso bonito que sempre elogiam. Vem ser feliz com a gente, tomar uma cerveja, jogar uma conversa fora.

E eu vou. E pelo menos por algumas horas eu fico ainda mais fútil e patética que o normal. Sorrio e gargalho como se não soubesse o que é dor, o que é sofrimento. E pra completar o pacote de autotraição, fotografo tudo e compartilho em redes sociais. Afinal, que graça tem sucumbir e jogar esse jogo imundo que todo mundo joga se ninguém ficar sabendo?

quinta-feira, 12 de março de 2015

Minha experiência no Tinder, meus dias de Tinderella.



Acho que foi numa segunda-feira de puro tédio e monotonia que me rendi. Sempre tive uma certa curiosidade em saber como funcionava o famoso Tinder, em saber como era e tudo o mais. Na época em que ele estourou e bombava, eu namorava, então acabei nunca criando uma conta. Eis que essa semana, no auge do ócio e da carência também, devo confessar, acabei baixando o aplicativo e criando uma conta.

Sempre tive preconceito e achei tudo isso uma vibe muito chat uol. Ao meu ver, com minha visão etnocêntrica e preconceituosa, só ia ter gente muito estranha e loser. Considerei que, de fato, tinha finalmente chegado ao fundo do poço. Mas ok, já que estamos aqui, vamos ver como se brinca dessa coisa.

Ajeitei minhas fotos de modo a dar a ilusão de que sou interessante e fiz questão de escrever que só estava no app por tédio. Na real mesmo, não tinha a menor pretensão de encontrar pessoalmente ninguém que visse por ali, nenhum "Match". Mas fui passando, com X, todo aquele cardápio de faces e que nada dizem e nada trazem além de bonito ou não aos meus olhos. Quando passava um que parecia mais interessantezinho, olhava as outras fotos, o que tinha escrito ali. Ainda assim, não tinha coragem de dar "like". X, X, X, X,.. e por aí vai.

Um tempo depois, após passar milhões de rostos, arrisquei um coraçãozinho pra um perfil aleatório. Já quase me arrependendo na mesma hora. Mas depois do primeiro, ficou mais fácil e distribuí mais uns cinco ou seis likes.

Daí vieram alguns "match" e, claro, não fui conversar com ninguém até que viessem falar comigo. Já tinha dado o "like", ir falar já era demais. O que me surpreendeu é que até têm pessoas interessantes que, após um pouco de conversa, a gente vê que não são apenas um rostinho (e um corpinho, porque pra ganhar meu coraçãozinho tinha que ser o pacote completo! hahaha) bonito. Ok, quebrei a cara. Eu e meu preconceito perdemos.

No primeiro dia fiquei muito tempo passando rostos aleatórios, mas já é o terceiro que estou por lá e já sem paciência de continuar. Não tenho coragem nem vontade de marcar um encontro com ninguém ali, ainda que tenha sido legal a experiência e que tenha feito bem pro meu ego tão surrado e minha autoestima de fundo de poço.

Ao final dessa minha experiência Tinderellesca, só concluo que não, não vou me acostumar com isso. Não, não nasci pra isso. Apesar de sempre me achar muito contemporânea e com pensamentos super modernos, me vi sendo bem tradicional nesse ponto. Não dá pra se acostumar com um cardápio de faces aleatórias. Não dá pra achar que só porque o sorriso é bonito, a tatuagem é legal, ele surfa e já visitou lugares incríveis, ele tenha a ver comigo. E aquelas coisas que só o contato ao vivo revelam? O jeito de falar, o modo como pisca os olhos, a maneira como sorri quando fica sem graça, a química, o toque, e todas essas coisas que jamais conseguiremos descobrir através de uma ou duas fotos?

Perdi um pouco do meu preconceito e to quase desativando a minha conta porque já enchi o saco. Como falei com as minhas amigas, no Tinder me sinto em um parquinho virtual. Resta saber se já cansei de brincar ou se vou tentar achar a roda gigante que me deixa sem ar, com frio na barriga e o coração acelerado.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Amor de praia.



Eu online, você offline. Eu quente, você frio. Eu buscando, você fugindo. Te peço pra ficar quando você já foi. Te peço pra vir quando você nem por perto está. Te quero comigo quando você tá com outra. Te espero quando o ponteiro do relógio já deu todas as voltas possíveis.

Não canso de ver amor onde só há canalhice. Não canso de repassar a história como se realmente alguma história existisse. Com todo o seu jeito que quase me implora pra ir embora, eu insisto em tentar ficar. Toda sua sedução barata se passa por final feliz aos meus olhos cegos de carinho e bem querer.

Seu sorriso mais brilhante e cheio de dentes é quase uma faca entrando devagar no meu peito, abrindo uma ferida que sangra e dói e que ainda assim eu cuido com carinho. É quase um masoquismo insano, é quase como se eu me agarrasse à dor só pra não deixar morrer o sentimento.


Sua pele bronzeada como se fosse verão o ano inteiro. E quando você resolve dar as caras novamente, realmente parece um verão sem fim. Ainda que seja amor de estação, ainda que o verão esteja com seus dias contados, ainda que eu soubesse de tudo isso desde o início e que eu tivesse topado que fosse assim desde o primeiro momento, não consigo aceitar que esse amor de praia termine sem amor.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Monotemática




Eu já tinha prometido pra mim mesma que não ia mais tocar no assunto. Já tinha jurado de pés juntos que não ia outra vez falar de você. Mas tudo grita aqui dentro que ainda há um pouco desse 'nós' que nunca existiu.

Tão estranho, difícil. Foram tão poucos encontros, tão poucas vezes. Mas não dá pra fingir que só porque foi rápido, só porque foi passageiro, só porque não passou de um conto breve com um único parágrafo, eu não queira continuar escrevendo a história. Começamos a quatro mãos e agora eu sigo sozinha, imaginando tudo, fantasiando e criando isso que podia ser tão lindo, mas nunca chegou a ser nada.

Durmo lembrando de como o sol dourado reluzia em seus cabelos escuros. Acordo lembrando da sua tentativa de ataque em vingança a um ataque anterior meu. E a gente morrendo de rir de tanta besteira. Não esqueço da gente deitado abraçado, olhando o teto ou o pedacinho de céu passível de vislumbrar pela janela aberta. As sua boca com dentes tão perfeitos e brilhantes e as promessas e todas as coisas lindas que você dizia. Até sua cachorra estabanada era a coisa mais gostosa de brincar, agarrar e ver correr pra buscar o coco arremessado.

Às vezes me pergunto quando comecei essa fissura por você. Mas não preciso pensar muito. Quando você contou dos seus projetos, com um entusiasmo e brilho nos olhos que só as crianças mais puras conseguem ter, eu sabia que eu tava enrascada. Me ganhou ali. Antes mesmo de qualquer coisa acontecer eu caí, caí de amores, de admiração e de um desejo de estar junto e abraçar e cuidar e querer bem.

E nossa, eu sou sempre tão dura, tão cética, racional e cheia de razão. Sempre demoro a abrir minhas portas, a despir minha alma e me vi fazendo exatamente o contrário. Tanta gente legal que conheço por aí, que esbarra em mim e que merece minha atenção, merece um carinho e que eu apenas deixo passar, por me fechar, me recusando a tentar viver e sentir mais uma vez coisas maravilhosas mas que acabam sendo pura ilusão.

Ainda assim, acho que no fundo devo gostar mesmo de me iludir. Fantasio as coisas, esqueço da vida, dos erros e vivo um conto de fadas que só existe mesmo na minha mente. Me pergunto como posso ter me confundido tanto, já que em geral capto logo a aura das pessoas. Mas se você não serviu pra virar romance, serviu ao menos pra me deixar boas lembranças de momento únicos, pra me fazer sentir a vida, pra me fazer acreditar de novo, ainda que acreditando eu possa conquistar apenas um coração todo despedaçado.