terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Aos 20.



Eu tentei correr. Eu tentei fugir, me esconder. Quando me perguntavam, tentava disfarçar. Dava apenas um sorrisinho sem graça. E confesso, em momentos de fraqueza, cheguei a mentir.
Aí, vi que não ia dar. Uma hora ia ser pega. Num segundo momento, resolvi relaxar, esquecer, deixar pra lá. Fingi que não estava nem ligando. Como dizem: deixei rolar. E o inevitável aconteceu: fui pega. Ingenuidade minha achar que, diferentemente de todos, comigo não fosse acontecer. Besteira achar que ia escapar.
Ela chegou. E chegou prepotente, imperante. De salto agulha, 15 cm. E não veio sozinha. Trouxe com ela seus companheiros inseparáveis. Eu sabia! Eu sabia! Deveria saber. A Idade nunca vem sozinha. Smpre chega com tudo, trazendo junto consigo muitos aliados. Chegou junto com a Culpa, o Arrependimento, a Responsabilidade.
Me vi encurralada. Não tinha mais pra onde correr. Já sem forças para lutar, resolvi aceitar. Já dizia o ditado: "se você não pode deter os seus inimigos, alie-se a eles". E foi o que fiz. Resolvi assumir. Tenho 20 anos a partir de agora. Sou uma (quase) adulta.
Acho que o que mais me apavora e entristece é ver que todas as minhas crenças não passavam disso: crenças bobas. A vida inteira, nesses 19 anos que já se passaram, acreditei que aos vinte anos eu seria uma adulta responsável e compromissada. Com vinte anos, eu pensava, vou estar pelo menos na metade da faculdade, com um CR digno de dar inveja e estagiando em uma multinacional, ocupando uma vaga concorridíssima, merecidamente conquistada. Com vinte anos, estarei morando sozinha, em um apartamento pequeno, mas lindo e aconchegante, todo decorado ao meu gosto, super limpo e organizado, onde só entrarão as pessoas que eu quiser. Com vinte anos, serei independente, não precisarei do carinho e atenção da minha mãe 24horas por dia. Me refiro aqui também a total independência financeira, muitos mil no banco, dirigindo um carrão. Terei uma saúde invejável. Serei rodeada de amigos de verdade e eventos sociais. Terei um namorado cobiçado por todas, mas extremamente apaixonado por mim. E claro, serei linda, charmosa, educada, com um corpo e cabelos perfeitos, super cobiçada também e com olhos apenas para o meu namorado.
E agora, diretamente dos 20, percebo que disso tudo, só tenho mesmo uma menia dúzia de amigos de verdade, sem querer desmerecê-los. Todo o resto? Pura ilusão. O que me entristece é saber que nada do que sonho para os 30, 40, 50... vai se concretizar também.
Infelizmente a vida não dá mole, não é fácil. E o pior, os 30, 40, 50 virão em um piscar de olhos. Não me darão nem tempo de parar para pensar neles. E mais uma vez não terei como fugir. O jeito é tentar novamente relaxar. A partir de agora, com muita calma e cuidado, viver um dia de cada vez.

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra." Mário Lago

TEXTO ORIGINALMENTE ESCRITO EM 16/05/2010

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A tal coisa dos best sellers.



Quem a vê passando nem imagina. Ela sempre carrega um sorriso estampado no rosto, um ar de calmaria e um olhar instigante. Quem bate um papo leve com ela pode jurar que ela é super feliz e bem resolvida. Quem a vê nas noites chega a ter inveja do tanto que ela parece se divertir. Dança, canta, bebe e fala com todos como se coisas melhores não houvessem no mundo.
Mas se alguém fosse capaz de perfurar todas as suas armaduras e escudos que usa para repelir o mundo a fim de evitar mais dores e decepções pra sua coleção que lota as prateleiras de seu quarto, veria que a realidade é bem diferente. Ela tenta passar a imagem de mulher, de adulta, mas não passa de uma menininha indefesa, com medo da vida, dos monstros que podem invadir seu quarto e aterrorizá-la.
Ela é frágil, sentimental, impulsiva, inquieta e completamente indecisa. Por trás de toda a aparente autoconfiança, existe uma menina que luta consigo mesma e com as mil e uma que pode ser ao mesmo tempo pra tentar achar e descobrir como que se faz pra ter aquela coisa que os best sellers de auto-ajuda vivem dizendo ser essencial para o sucesso. Como é mesmo o nome?? Ah, amor próprio. Se questiona até não aguentar mais. Não conhece nem o amor, que dirá o amor próprio. Amor de mãe vale? É o único que ela acredita ter alguma noção do que seja, depois de já ter se enganado tanto achando que uns frios na barriga e umas palpitações mais fortes pudessem ser de fato esse tal de amor.
No fundo, nem ela conhece a si mesma. Tem tentado aprender como se vive e se relaciona. Cada dia vivido é considerado uma aula, uma oportunidade de descobrir novas coisas, caminhos, sensações e sentimentos. Eterna aprendiz da vida, eterna questionadora do mundo, eterna idealista de utopias inalcançáveis. Vive com a cabeça nos ares. Se reparar bem, dá pra ver que na verdade ela está fora desse mundo. Seu universo à parte é mais interessante. Mas ninguém tem tempo para um olhar mais detalhado. Ninguém desconfia. É seu segredo. Só pode conhecer seu mundo quem se mostrar digno de seu convite.
O que acontece é que esse tal de amor-próprio tá tão na moda, que as pessoas esqueceram de olhar de verdade umas pras outras e só conseguem enxergar a si mesmas. Desse jeito, seu segredo ficará pra sempre conservado, uma vez que um olhar atento, um carinho mais longo e um afeto real são coisas cada vez mais raras de se encontrar.

domingo, 18 de novembro de 2012

A rainha.



No dia dezoito de novembro de 1957, nascia uma rainha. Não uma rainha tradicional, de família real, com direito a coroa, trono e sangue azul. Mas uma simples menininha que nasceu para brilhar.
Sua casa era humilde, sua família pobre e sua infância não foi das mais fáceis. Desdobrava-se em várias para dar conta de cuidar dos irmãos mais novos, dedicar-se ao colégio (era a melhor aluna da classe!), colaborar com os afazeres domésticos e ainda, de quebra, arranjar um tempinho para pequenas travessuras típicas da idade.
Já na fase adulta prosseguiu trilhando caminhos de sucesso. Não foi fácil, mas conseguiu formar-se na faculdade, fez especializações e trabalhou duro, sempre guerreira, sempre forte.
Aos trinta anos, engravidou de sua filha mais velha e aos trinta e um, dessa praguinha que vos escreve.
A rainha sempre diz que eu, juntamente com minha irmã, sou o maior presente que ela podia ganhar em vida. Discordo. Só trago dores de cabeça, eu sei. A verdade é que ela sim é o maior presente que tenho. Não sei se mereço tanto. Tenho a maior sorte do mundo  por tê-la ao meu lado.
Hoje, a rainha completa 55 anos de sucesso e reinado. São muitas conquistas já feitas, muito afeto compartilhado e as melhores intenções distribuídas. Sem coroa ou jóias de valor, possui o mais importante: amor pela vida.
Parabéns, mãe, por ser esse exemplo, esse espelho, por tanta dedicação e paciência comigo. Somos muito diferentes e pensamos de maneiras muito distintas e ainda assim sei que você se esforça pra me entender e respeitar esse meu jeito tão difícil. Hoje, e em todos os dias e momentos e segundos, eu só posso te desejar o melhor. Mais conquistas, mais sucesso, mais saúde, mais felicidades, mais praia, mais sol, mais viagens, mais comidas gostosas, mais amor de filha, mais amor em geral... mais de tudo o que há de maravilhoso. Você merece o mundo!!!!
Sem nome real, trono ou castelo, você é, ainda assim, a maior rainha que existe. Seu reinado é sua existência e eu serei eternamente sua súdita!
Te amo.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O espelho.



Era sábado a noite. Tomou um banho com calma. Sentiu cada gota penetrar seu corpo. Esfregou os cabelos, ensaboou-se e ficou mais uns minutos desfrutando do prazer que sentia. Imaginava que a água lavava não só seu corpo, mas seus problemas. Gostava de pensar que por aquele ralo desciam muito mais que o shampoo, o condicionador, o sabonete e as sujeiras diárias. Pensava em todas as suas dúvidas, tristezas e incertezas e as via diluindo-se junto à água, indo embora para não mais voltar. Sabia que não era assim, que infelizmente as coisas não funcionavam dessa maneira. Mas enganar-se por alguns minutos era poder fugir e sentir-se livre de todas as correntes mundanas.
A toalha macia e cheirosa enxugou cada cantinho de seu corpo, cada pedaço de sua pele. Vestiu-se com calma, admirando-se. Nos cabelos, outra toalha permaneceria durante mais algum tempo. 
Não tinha planos ainda. Não sabia o que ia fazer. Talvez poderia encontrar os amigos para conversar e beber algumas doses de felicidade barata e fugaz. De repente, poderia ligar  para mais um daqueles meninos que aparecem e desaparecem e que ela resolve tirar do fundo da bolsa vez em quando. Enquanto pensava qual poderia ser a melhor opção, cuidava de si como se fosse uma princesa.
Cada detalhe de seu corpo recebia um carinho e uma atenção especiais. Para os olhos, resolveu usar os rímeis, lápis e delineadores novinhos em folha que tinha comprado de presente para si. Marcou bem sua expressão. Nem muito sombria, nem muito alegre. Misteriosa na medida. O batom vermelho coloriu os lábios e deu o ar de mulher fatal. As maçãs do rosto receberam uma pequena pincelada de blush, pequena mesmo, pois ela já estava satisfeita com seu bronzeado. E assim foi cuidando de cada pedacinho seu.
O processo demorou mais que o costume. Geralmente, ela se arrumava bem rápido, mal prestava atenção no quanto seu colo era bonito, por exemplo.
O resultado foi radiante. Nem mesmo ela estava se reconhecendo. Fazia tanto tempo que não se aprontava com tanta dedicação. Surpreendeu-se ao ver que já estava mais para mulher que para menina. O espelho revelava que por cima de tanta confusão e inquietude, ela podia se mostrar uma mulher forte e bem resolvida.
Depois de pronta, começou a ponderar. "Ligo para as meninas e combino mais um sábado como todos os últimos?" Achou que não devia. Pensou que deveria dar uma inovada. "Que tal, então, aquele cara que costumava ser legal comigo?" Desistiu da ideia também. Ela merecia mais que alguém que aparecia quase tanto quanto a lua nova. Ainda insistiu pensando em um ou outro caso ultrapassado, mas percebia que não era daquilo que precisava.
Resolveu então, inesperadamente, que sairia sozinha. Pensou que estava realmente maravilhosa, que havia de fato se dedicado muito a ficar assim. Achou que, apesar de todas as inseguranças e incertezas, ninguém além dela merecia tanto.
Pegou sua bolsa, calçou os sapatos, guardou as chaves e deixou o celular em casa. Saiu sem rumo pelas ruas, percorrendo calçadas e esquinas com o mais genuíno dos sorrisos. A noite estava bonita, a brisa agradável. Deixou-se levar pela vida. Deixou-se perder pela madrugada. Nada melhor que perder-se um pouco depois de finalmente encontrar-se.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A Felicidade.



Desperto do mundo dos sonhos com a vibração do aparelho celular que está embaixo do meu travesseiro. Sonolenta, olho a hora e ativo a função soneca. O processo se repete algumas vezes até que eu desista da luta e resolva levantar. Coço os olhos, espreguiço-me, paro e penso um pouco. Um sorriso surge espontaneamente nos meus lábios.
É excelente acordar a cada manhã e lembrar que a minha vida tá agora bem como eu gostaria que estivesse. Provavelmente não é a vida perfeita de filmes hollywoodianos e comédias românticas. Tão faltando algumas coisas.O emprego dos sonhos, a mansão, as férias paradisíacas, o par. Uma meia dúzia de itens não constam nesse roteiro. Mas ainda assim parece um filme feliz.
A gente sempre quer mais do que tem. Estamos sempre  insatisfeitos e desejando coisas, muitas vezes supérfluas, que não temos ou não conseguimos ainda. O foco é sempre no emprego que não conseguimos, a viagem que não saiu do papel, o amor mal resolvido, o carinha que não nos dá bola, a bolsa da moda que não pudemos comprar.. A lista é imensa.
A questão é que precisamos mudar essa perspectiva. Por que ao invés de olharmos para tudo isso anteriormente citado não passamos a olhar pra o que temos, o que conseguimos, o que faz bem? Aquela amiga que tá sempre ali, em todos os momentos. Aquele vestido que você tem que não é o mais caro, não é o mais luxuoso, mas te deixa radiante. Aquela viagem que você fez praquele lugar que mais parecia um fim de mundo mas ainda assim foi incrível por causa das companhias que te rodeavam. Aquele sorriso bobo que surge no seu rosto sem motivo aparente.  A natureza absurda que o cerca. A lista aqui também pode ser infinita.
Eu sempre olhei pra falta, pra ausência, sempre. Sempre chorei, esperneei e lamentei o que se foi, o que não veio e o que ainda estava por vir. Nada nunca foi o bastante pra mim. Mas, não sei explicar quando, como ou porque foi acontecer, mudei de parâmetro.
A vida tem estado mais bonita. As coisas tem estado mais fáceis. Acordar já não é mais um tormento.
Férias, inverno ensolarado, sol quase todos os dias. Por que eu precisaria de mais? Ao invés de me lamentar por não ter um emprego, celebro o fato de poder ir à praia diariamente.
A felicidade é contida, não é chegada a alardes, extravagâncias, exageros. Ela é pequenina, chega faceira, despercebida. Se você não estiver atento, se estiver olhando pro outro lado, nem percebe que ela passou e te fez uma boa visita. Ela se concentra em pequenas coisas e possui a capacidade de torná-las grandiosas. Ela pode estar no brilhante sol, que se localiza a milhões de quilômetros de você, ou pode estar dentro do seu coração, mais perto impossível.
Os sentimentos e sensações que ela provoca são os mais diversos. Mas todos sutis. Não espere deparar-se com inquietudes se estiver na presença da felicidade.
A verdade mesmo é que ela dispensa qualquer descrição. Não é feita pra que se fale dela e sim pra que a sintamos. Ela tá aqui, agora, comigo. Mas ela é meio promíscua e gosta mesmo é de tá em diversos lugares. Dizem até mesmo que quanto mais você compartilhá-la, maior ela fica. Portanto, não hesite. Eu to aqui, tentando multiplicá-la. Que tal você olhar pro lado que ela tá, olhar tudo sob a perspectiva dela, pra que consiga sentí-la e compartilhá-la também?

sábado, 23 de junho de 2012

A praia e a piscina.

É sexta feira a noite e estou em casa. Estou satisfeita em casa. Feliz e contente por estar desfrutando do conforto do meu lar.
Passei o dia aqui. De pijamas, de preguiça, assistindo um seriado que é o meu mais novo vício. Praticamente sem contato algum com o mundo exterior. Exceto um amigo ou outro que falou comigo, mandou uma mensagem ou coisas do gênero.
Sempre fui a louquinha intensa. A desesperada, apaixonada, que atropela tudo, que assusta todo mundo. Sempre assustei quem eu gosto com meu jeito carente que exigiu sempre atenção integral. Sempre sufoquei de tanto que queria ser salva do medo da solidão.
E agora isso. De repente, depois de um turbilhão, de um excesso de sensações paradoxais fluindo incessantemente por dentro de mim, isso. Essa calmaria.
Nunca achei que eu fosse capaz de atingir esse estado de espírito. Tenho quase certeza que ele é passageiro porque sei que não nasci pra piscinas. Nasci pro mar, ondas, intensidade. Mar de ressaca, com ondas indo e vindo, imprevisíveis, inconstantes. Mas devo admitir, estou adorando essa fase de calmaria.
A paz vem de dentro. Não adianta procurar e procurar desesperadamente por ela no mundo externo. Ela é intrínseca. Vem de dentro pra fora. Você pode passar a vida inteira atras dela, se iludir com milhares de coisas materiais, de felicidades fáceis, de facilidades fúteis. Se não abrir os olhos para o seu interior, jamais conseguirá encontrá-la.
O despertar para o conforto interno e sentimental acontece sem que se perceba, sem que se pare para pensar nele. De repente, você pisca os olhos, respira um pouco mais profundamente e, pimba!, acorda pra si. Quando se dá conta ele já está lá, imperante. É estranho no começo. É muito estranho acostumar-se com ele. Eu que sempre fui inquieta, assustei-me com a quietude. Quando a compreendi, veio a satisfação. Que felizmente não foi momentânea como as superficiais.
Ainda não aprendi completamente a viver na piscina. Volta e meia, vez ou outra, ainda me pego de volta ao mar, correndo pra ele ou tentando correr dele. A piscina me encanta. É ótimo poder relaxar e refrescar-se nela sem precisar preocupar-me com ondas grandes que possam estar por vir. Mas o mar, ah, o mar.. ele me liberta. Me mostra que é natural sentir tudo do jeito que sinto, que é verdadeiro. Ainda assim, essa temporada na piscina tá deliciosa, to adorando. Está sendo revigorante.
Afinal, quem nunca desejou dar aquele mergulho na piscina depois que saia da praia??

terça-feira, 12 de junho de 2012

O dia dos namorados.




Então chegou o dia dos namorados. Para a glória de quem tem o prazer de estar acompanhado e pra desgraça de, eu diria, noventa por cento dos solteiros.
Nunca consegui entender tamanho desespero. Tá legal, tudo bem, é ótimo ser solteiro durante os 364 dias do ano, para a grande maioria dos que sofrem com o doze de junho.  É super legal e divertido ir pra festas, beber sem pensar nas consequências, não precisar dar satisfação pra ninguém, ser dono de si e do próprio nariz durante quase o ano inteiro. Mas é só o fatídico dia se aproximar pra começarem a arrancar os cabelos.
Bate o desespero, a tensão, a dúvida. “Será que até lá consigo arranjar alguém?”. E dá-lhe pseudo relacionamentos forçados. E dá-lhe ligações e mensagens pra ex casos falidos. E dá-lhe comédia romântica e chororô.
Galera, vamos acordar! Chega de hipocrisia. Hipocrisia sim, porque gritar aos quatro ventos o tempo inteiro a maravilha que é ser solteiro e depois ficar desesperado com uma data tão sentimentalmente insignificante, que possui apenas um apelo comercial é, ao meu ver, pura hipocrisia.
Vamos ser feliz, minha gente! Chega de se boicotar! Tá namorando? Que legal! Aproveita e curte muito o dia de hoje com seu companheiro, porque apesar da data ser comercial, é sempre bom ter mais um motivo pra comemorar. Tá solteira(o)? Trata de limpar essa cara de choro e de vestir o melhor sorriso porque você adora essa sua vida na verdade.
Viva o doze de junho, o dia dos namorados, a data comercial, o que for. Celebre se for pra celebrar. Mas se não for o caso, celebre ao menos as oportunidades de viver tudo o que você tem pra viver, de ter todas as infinitas experiências e opções que você pode ter. Porque como eu li certa vez, é tudo ao mesmo tempo agora!

domingo, 3 de junho de 2012

Verdade e mentira. Loucura e lucidez.

A verdade é incorruptível. Machuca. É dura. Faz sangrar. A mentira é uma ilusão. Cada um decide o que quer pra si. Viver uma mentira agradável ou uma verdade devastadora.
Eu, particularmente, me abasteço de devaneios e sonhos e ideias que, muitas das vezes, sei que jamais se concretizarão. Crio, imagino, iludo. Mas a verdade sempre dá um jeito de se mostrar, escancarada.
Os vícios são o maior problema ou a melhor solução. Quando alguma realidade se revela diferente da qual eu imaginava, enlouqueço. Não que eu já não seja naturalmente louca. Mas fico ainda pior. Piro, esperneio e vou buscar abrigo lá. No álcool.
A vida é cheia de mentiras sinceras e verdades sujas. O tempo inteiro real e imaginário se confundem, se fundem e se entrelaçam. Loucura e lucidez. Extremismos. Clarão de sobriedade e borrão de torpor. Encarar tudo é muito complicado. Impossível sobreviver aos bombardeios diários sem uma fuga.
Jovens, principalmente, buscam refúgio em vícios nada saudáveis. Sempre tive postura dura e critiquei tudo isso. Só agora consigo compreender. Não sou diferente. O fato do álcool ser legal não me torna diferente do consumidor de outras drogas. No fim das contas, todos fazemos nossos usos pelo mesmo motivo: não tolerância da realidade.
As vivências, viagens, desvios e alucinações causadas pela química em contato com nossos corpos servem de abrigo para os medos mais ocultos e inconscientes. É muito mais fácil ser feliz entorpecido e maquiando a realidade, esquecendo de tudo o que machuca.
É feio, é vergonhoso. O hábito de fuga é digno de pena, de julgamentos. Os vícios são condenáveis. A lei da lucidez impera. Exige que você esteja sempre ali, consciente de cada gesto, de cada ato. Qualquer coisa fora do padrão é extremamente repudiada.
Vivo à margem de todos. Sob constantes olhares críticos, sob julgamentos, muitas vezes hipócritas. Sou incompreensível por não compreender a sociedade e os modos e o mundo e a vida. Não tenho vergonha em confessar que estou sempre na ânsia pela inconsciência, pela perda dos sentidos. Apesar de ser ridícula e frágil, tenho plena convicção de que medo da vida só tem quem é muito esclarecido e lúcido. Só pode questionar-se aquele que encara a realidade. Me deparo o tempo inteiro com as mazelas e desgraças, vejo a verdade, vejo a mentira, vejo tudo, mesmo sendo míope.
Não condeno mais e não me sinto mais condenada. Estou fadada a essa busca constante e paradoxal que faço pelo consciente e pelo inconsciente. Quero sempre fugir da lucidez, quero sempre entorpecer-me de ilusões. Quero sempre a verdade, quero sempre entender, quero sempre sobriedade pra tentar compreender o que é isso tudo. O paradoxo me escraviza, me mata. Mas tudo bem. Afinal, não é pra um dia morrermos que estamos vivos?
Brindo os torpores, as loucuras e brindo também a lucidez. Nada e nem ninguém é sóbrio ou louco o tempo inteiro. Todo mundo tem seus acessos, suas crises. O ser humano é refém da mente. Mente que engana, mente que ilude, mente que mente.
Insanidade e sobriedade são extremos que brigam, mas que estão sempre indo de encontro um ao outro.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A celebração .

Acordo às duas da tarde em Niterói com a cabeça explodindo graças a ressaca adquirida através da bebedeira da noite anterior. Me apresso para voltar para casa. Dou um beijo na minha amiga, um abraço apertado e vou-me.
Já nas ruas de Icaraí, passo no Ponto Jovem e mato as saudades de comer aquele salgado delicioso com aquela maionese divina. O dia está lindo, o sol radiante e o céu de um azul sem fim. Vou até a beira da praia e amadoramente fotografo um pouco a maravilhosa vista. Sinto-me muito bem. Sorrio para a vida e para o mundo.
A hora voa e desespero-me. Não encontrei a blusa que tanto queria pra combinar com a saia nova. É que é dia de comemoração. Mesmo com todas as atrocidades diárias dessa vida e desse mundo, confesso que não me faltam motivos para celebrar esse mais um ano de vida que completei recentemente.
Chegando na casa de uma amiga, mato as saudades que já estavam sem tamanho. Conversamos, rimos, fofocamos, fotografamos e, claro, bebemos.
É chegada a hora. Partimos para a celebração de fato. E a partir de então, tudo ocorre de maneira disforme, ainda que incrivelmente.
Visualizo o ambiente, entro no clima, abraço, como abraço, danço, bebo, perambulo, converso com todos, distribuo sorrisos, carinhos, atenções. A diversão parece não ter fim. Invento até moda de querer grafitar.. eu, que mal sei desenhar um simples coração. Mas a minha alegria e empolgação estão indescritíveis e até mesmo irreconhecíveis.
A noite passa voando, mesmo com mil e um acontecimentos hilários e surpreendentes. Amanhece, o sol brilha novamente. E eu continuo empolgada. Não quero ir pra casa. Quero mais luzes, mais sons, mais emoções e sensações. Mas, infelizmente é chegada a hora. Ainda numa nova tentativa de prolongar a celebração, volto a pé, serelepe, para demorar ainda mais a chegar em casa.
Por fim, encontro minha cama e deito-me morta. O sorriso não sai do rosto. A alegria prevalece. Uma sensação de dever cumprido. Um misto de entusiasmo e ânimo.
Que as noites sejam sempre assim. De celebração. Seja por mais um ano de vida, pelo fato de os amigos existirem, pela vida em si, como ela é. Ou melhor ainda: por nada. As mais genuínas e verdadeiras alegrias e celebrações são as que não tem motivo.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Selva de pedras X Mente .




No meio da selva de pedras e do céu cinzento desse dia de outono, caminho. No meio do caminho que me leva à algum lugar que eu ainda não sei qual é, ando. Ando cabisbaixa. Ao redor, carros e mais carros indo e vindo, surgem de todas as direções. A multidão de pessoas caminhando apressada e inexpressivamente pelas calçadas. Eu, perdida.
Crianças descalças e maltrapilhas esperando que os sinais de trânsito fechem pra que possam correr para o meio da faixa de pedestres e improvisar algum número qualquer de arte. Mas de arte não conhecem muita coisa além da arte de sobreviver pelas ruas. Charlatões nos carros com os vidros fechados. Mas, principalmente, com olhos fechados. Bem fechados, de modo a não enxergar nada disso. Não conhecem nada além do próprio umbigo. E eu, mais uma vez, perdida.
Pessoas completamente animalescas, vivendo abaixo da miséria, caçando restos de comida pelos lixos afora. Comida essa desperdiçada banalmente por jovens de classe média e, certamente, média ou baixa inteligência. Sabem tudo sobre a balada do ano e sobre a festa do momento. Mas desconhecem qualquer problema social. Eu, perdida, novamente.
Trabalhadores honestos vivendo em condições precárias, cercados por medo e horror nas favelas. Enquanto filhinhos de papai sobem o morro pra comprar mais algumas gramas daquele pó incrível que os faz viajar e esquecer pelo menos um pouco toda essa loucura que é viver. Tatiana, perdida.
Mazelas, crises, desgraças. A selva de pedras é fria de mais. Mesmo que o dia seja de extremo verão e calor. Ninguém vê nada além de si, de seus problemas, seu umbigo, sua festa, sua alegria sintética. Mas eu, eu vejo. Vejo tudo, todos, a todo momento. Vejo o senhor que mal consegue andar e não tem um familiar por perto pra auxiliá-lo na árdua tarefa de atravessar a rua. Vejo o bebê chorando de fome, chorando de frio, chorando porque é o que lhe resta fazer. Vejo o cachorro mal cuidado, mais ou menos como eu: perdido também. Vejo o casal que briga por mais uma besteira qualquer, enquanto os filhos quase se matam por coisa alguma. E por ver tanto, tanta coisa que me entorpeço.
Imersa em meus pensamentos estou à salvo. No mundo da minha imaginação, não existe nada disso. Eu sei que não adianta maquiar a realidade porque depois ela vem ainda pior. Mas viver tudo isso o tempo inteiro é impossível.
Ainda bem que nasci com esse troço, essa mania de divagar, devagar e calmamente. Crio o mundo de sonhos, de fantasias e utopias. Enlouqueço-me e embriago-me de boas intenções e histórias. A mente é uma imensidão, é muito maior que qualquer arranha-céu.
Se o mundo te fere com mazelas, fuja. Fuja pro lugar mais seguro e bonito que pode existir: a sua própria mente.



" Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores." Caio Fernando de Abreu.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O aniversário.


 
Dessa vez foi mais leve, mais suave. Chegou desapercebido. Quando dei por mim, ele já estava aqui. O 14 de maio desse ano surgiu como se eu não tivesse parado para pensar nele. No finzinho do dia 13, quase virando o meu dia, não estava nem aí pro horário. Só me dei conta de que meu aniversário tinha começado quando recebi o primeiro gesto de carinho de tantos, tantos outros que eu viria a receber nas próximas 24 horas.
Comecei bem. Com bastante cerveja e comemoração, mesmo que eu não fosse o motivo. Virei a noite, praticamente. Compartilhei sorrisos e gostei de gente como nunca gosto. Depois, como me é característico, fui dormir quando o dia já tinha clareado há bastante tempo.
Um bom almoço, muito carinho e afeto. Mais sorrisos, mais positividade, mais desejos de coisas boas, mais amigos. Mais consciência de que existe uma meia dúzia aí, bem mais que meia dúzia na verdade, que me aceita desse jeito louco e intenso e perdido e fugaz.
Abraços mil. E no fim do dia, a clássica celebração em família. Bolo delicioso da mamãe e tudo o mais que a que tenho direito.
Sem o inferno astral me importunando, dessa vez foi tão mais fácil chegar até aqui. Apesar de eu viver reclamando, devo reconhecer, ultimamente a vida tem se mostrado deveras generosa comigo. E agora, já passa de meia noite e não é mais o meu dia. Mas o sorriso permanece. E junto com ele, a certeza de que sim, ainda vale apena estar aqui. Por vocês vale apena. Muito obrigada!

sábado, 12 de maio de 2012

Narcisismo infantil.

Infantil. Não há outro adjetivo que a defina melhor. Ridiculamente infantil. Estuda jornalismo com sonhos de trabalhar escrevendo sem nem ao menos saber fazê-lo. Agora colocou na cabeça que entende de psicanálise. Coitada, dá até pena. Só porque leu aí uma meia duzia de textos do Freud e tirou nota boa na prova de psicologia. Agora vive de querer se auto-analisar. A verdade é que a única coisa que se sabe e se percebe, explicitamente, é seu narcisismo primário, completamente, que surpresa, infantil. Inteiramente dependente do outro. Totalmente dependente do amor do outro. Não vê graça na vida em ser, se não for ser pra alguém. Quer se contar, se amar, se saber e se entender no outro. Não se encontra. Sente-se completamente só. Sozinha e perdida. Para se enganar e fingir que entende um pouco dessa loucura que é estar viva, apóia-se no outro. E vai deixá-la em casa numa sexta à noite... Ela fica super feliz, a princípio. Se achando madura, completa e autossuficiente. Mas quando vai chegando à meia noite, começa a depressão. Sozinha numa sexta-feira à noite. Não é digna de diversão? Não é digna de companhia? Entedia-se. Entristece. Faz silêncio. Aquele silêncio ensurdecedor. De não ter com quem compartilhar. Apela. Sai falando com a primeira pessoa que vê pela frente. Conta a vida pro primeiro que dá um pouco de atenção. E tudo o que consegue com isso é entediar-se mais ainda. Questiona-se: "Por que tenho que ser assim?". Queria tanto se bastar. A verdade é que ela quer tanto atenção, quer tanto amor, que acaba, sempre, ficando sem nenhum.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O erro.

Passei mais da metade da minha vida encantada pelo correto. Tudo o que era certo me fascinava. Todo o ideal era mágico pra mim.
Ainda na pré-escola, muito pequenina, aprendi sobre o bem e o mal. Sobre ser boa, correta, bem educada. Sobre tratar os outros de maneira respeitosa e estar sempre disposta a ajudá-los. A estar sempre pronta para dar o meu melhor. Eu era o xodó dos professores. Tão meiga, tão obediente, tão educadinha. E frágil. Isso desde o dia do meu nascimento.
Já no colégio, naquela fase que no meu tempo se chamava Ensino Fundamental, permaneci seguindo a cartilha dos bons modos, dos bons hábitos. Excelente aluna, nunca infringia regra alguma, sempre cordial. Meu boletim tinha notas impecáveis. Nem sequer uma recuperação. Minha vida acadêmica ia de vento em popa. Todos imaginavam um futuro brilhante pra pequenina. Inclusive eu.
Enquanto aprendia super bem o conteúdo ministrado nas aulas de português, de matemática, de estudos sociais (nem história e geografia eram), ia de mal a pior nos relacionamentos interpessoais. Tinha lá uma amiguinha ou outra. Conversava com um ou outro, brincava com um ou outro. Mas já podia perceber o quão estranha eu era. O quanto eu não era parte daquele todo chamado turma.
A chegada do Ensino Médio aconteceu ao mesmo tempo que a chegada da adolescência. Fase que, de acordo com o senso comum, é bem complicada. E, meu amigo, se para as pessoas em geral a adolescência é complicada, pra mim então... Mas ainda assim insisti. Continuei perseguindo ideais inalcançáveis. Continuei me esforçando em ser a melhor aluna, a melhor filha, a melhor amiga, a melhora atleta. E continuei frustrando-me, obviamente.
Via colegas se perderem na vida. O álcool, as festas, o sexo, as perdições, as drogas. Uma infinidade de opções. Milhares de desvios de reta. Me assustava com essa realidade que aparecia. E recluía-me.
Até que chegou o último ano do colégio. Aí, eu já tava quase desistindo do meu projeto de vida perfeita. Já tava vendo que não ia dar certo. Que essa história de ideal não era comigo. Apresentei sinais claros de que não conseguiria persistir com essa ideia. Me perdi em meio as possibilidades de carreira. Relaxei quanto aos estudos. Comecei a beber com maior frequência, a frequentar festas, a sair da rota.
Me formei então. Triunfantemente me formei. Sem nunca passar sequer por uma prova final. Aos dezessete anos fazia parte de certa parcela da população que possui o 'segundo grau completo'. Mais triunfantemente ainda, passei com êxito no vestibular para um curso com status em uma universidade federal. Nossa, até que meu projeto de perfeição não tava sendo um fracasso tão grande assim.
Estudei por dois anos assuntos que não me interessavam. E fui percebendo que eram poucas as coisas que de fato me apeteciam. Fui caindo em mim e vendo o quanto todo aquele brilho falso e aquelas ideias de futuro promissor eram inverídicas. Eu jamais conseguiria. Entrei em um conflito interno. Iniciei um processo de auto-rejeição que me acompanha até hoje. E provavelmente me acompanhará para sempre (ainda que a eternidade faça parte das muitas coisas que não acredito).
Hoje, após tudo isso, após mudar tantas coisas na minha vida, percebo que fiz tudo errado desde sempre. Sim, porque finalmente descobri que o que me encanta na verdade é justamente o erro. Sou apaixonada por imperfeições. Adoro defeitos e detesto correções. O certo é tão sem sal. O erro vem com pimenta, amargura, açúcar, azedume. Tudo junto. Tudo ao mesmo tempo. O erro, o defeito, a imperfeição, tudo isso vem com mil sabores e visões. O certo é chato, tedioso. Você faz tudo certo, leva uma vida pacata e é infeliz. Você erra, leva uma vida indomável e é infeliz também. Mas pelo menos você foi verdadeiro e fez o que quis de fato. Tá valendo mais que se enganar caçando ideais, não?
Portanto, celebro hoje o erro. Celebro a culpa, os arrependimentos, as incorreções, as imperfeições, os defeitos. Nada de celebrar as qualidades, o certo, o óbvio. No fim, a gente é produto mesmo é dos nossos desvios, dos nossos desejos escondidos. O erro é a verdade nua, crua, real e incorruptível. E não é na busca pelo verdadeiro que vivemos? Vivemos o erro, portanto nada mais justo que celebrá-lo. Obrigada, erro, por fazer parte de mim de maneira tão intrínseca. Eu não seria nada sem você.

domingo, 29 de abril de 2012

Ela. Sozinha.

Acorda sem saber onde está. Que vida é essa? O que aconteceu? Quem eu sou e onde estou? São esses alguns dos questionamentos que se faz. Levanta e vai viver. Viver? O que seria isso? Ela não sabe. Mas tenta. Todos os dias se levanta e tenta. Tenta entender, tenta saber, tenta aprender, tenta compreender. Tenta e tenta e tenta e tenta. Tenta tensa encontrar um jeito. Um jeito de fazer com que estar aqui não seja assim tão difícil, tão penoso. Um jeito de levar os dias. De levar leveza. Leve é como gostaria de ser. Mas sempre se depara com mil e um sentimentos e sensações. Todos de maior profundeza impossível. E todos os mais contrários possíveis. Como pode um ser tão pequeno carregar tanta coisa? Carregar tanta complexidade, tanta incerteza? Porque é disso que ela é feita. Incertezas. Será que cada pessoa que se aproxima e que a conhece imagina tanta loucura tentando ser maquiada como lucidez? E quando vier a água e vierem os removedores e só sobrar a loucura mesmo? Limpa, ilesa, pura. Já sem a maquiagem. Como de fato é. E quando tudo for revelado? Será que suportarão a verdade da loucura? Será que serão capazes de compreender e aceitar o incompreensível e inaceitável? Ninguém suporta. É muito fácil ser amigo da menininha estranha e frágil que exibe sorrisos falsos como se fossem os mais sinceros. Mas a verdade é que ninguém aguenta. Quando acaba a maquiagem, quando começa a sobressair a verdade, não há mais ninguém. Resta somente ela. Só e sozinha. Acompanhada apenas de suas incertezas e loucuras. E então, ergue a cabeça, simula determinação. Dorme e acorda. Mais uma vez. Como todas as outras vezes. Sozinha e se perguntando: "Que vida é essa? O que aconteceu? Quem eu sou e onde estou?".

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Os outros.

Acordo com preguiça de levantar da cama e pensar no meu dia e nas coisas que eu tenho que fazer. Mas rapidamente penso nele. Abro um sorriso, imagino uma história, me engano, crio, iludo e, finalmente, levanto. Já no café da manhã, lembro do outro e o jeito dele de nunca tomar café da manhã. Esse tá sempre com o tempo contado. E acho engraçada essa sua pressa. Mais tarde, quando vai chegando a hora do almoço, lembro do outro e do dia que saímos pra almoçar, sem maiores pretensões e como tudo aconteceu sem que pudéssemos esperar. Senti saudades dele e das surpresas da vida. Durante a tarde em meio aos mil afazeres ou ao tédio profundo, o outro invade meus pensamentos. Ele que nunca pode ser compreendido. Que sempre foi um mistério. E tenho vontade de ligar pra ele e saber como ele está. Já na hora do jantar, na dúvida a respeito da escolha do prato, penso naquele outro que nunca sabia o que queria. Lembro como somos parecidos por nunca sabermos o que queremos e por um segundo fico sabendo o que quero: estar ao lado dele. E o dia, os dias, seguem assim. Uma confusão de pessoas e personagens e personalidades. A vontade de abraçar o mundo mas ter braços tão pequenos que nunca aguentam abraçar nem uma única pessoa. E depois dessa rotina toda, pensando, lembrando, querendo, sentindo saudades e desejando de maneira tão leve tantas pessoas, na hora de deitar e dormir lembro dele. Ele que não me deixa dormir. Que me tira o sono, que me rouba lágrimas incessantes e destrói sorrisos fascinantes. E choro, como choro. E quando vou ver já está tarde de mais pra ser de alguém, pertencer a alguém. E só porque mais um dia chegou ao fim e eu não tive amor, muito menos o amor dele, fecho os olhos e me forço a dormir a qualquer custo. No dia seguinte, só pra continuar me enganando, acordo mais uma vez com preguiça de levantar da cama e pensar no meu dia e nas coisas que eu tenho que fazer. E rapidamente penso em mais um. E assim segue a minha vida. Mais um dia, mais mil personagens e uma única dor latejante e eterna.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Os loucos são vocês.

A vida é simples. Muito simples pra quem não nasceu como eu, com esse troço questionador e desesperado que eu tenho aqui dentro. Acordar, tomar um café, ler o jornal, dar uma olhadinha na TV e ir trabalhar. Cumprimentar pessoas, sorrir pra quem não se gosta, almoçar uma besteira qualquer no restaurante da esquina. Estudar, ir pra faculdade, conhecer pessoas, fazer amigos. A vida inteira em sociedade parece muito simples. Muito bem desenhada e pré-definida. Passos certos. Viver tem que ser assim. Nascer, crescer, estudar, arranjar um namorado ou outro, ter uns amigos aqui e ali, fazer uma faculdade, conseguir um bom emprego, ganhar dinheiro, casar e depois do auge, se aposentar e levar uma vida ainda mais simples e pacata. Tão obvio, tão fácil. Não pra mim. Que não consigo entender toda essa ordem que insistem em colocar pra tudo. E aí, eu não quero isso pra mim. Como faz? Ih, pronto. Essa aí é louca. Problemática. Coitada da família. Vai ser um peso eterno nos ombros e principalmente nos bolsos. Todos os olhares se voltam. Alguns completamente críticos, outros de dó e pena. Eu não quero isso. Eu quero poder assumir meus medos, minhas aflições, temores, dúvidas e indecisões sem que me considerem um fracasso ou uma aberração. Não que eu me importe muito com o que os outros pensam. Me importo somente se esse 'outros' forem meus pais. Sinto a obrigação de ser excelente pra eles. Mas como qualquer outra obrigação mundana, me desanima. Por que tantas obrigações se no fim de tudo a gente já sabe o que acontece? Ou não. Na verdade o fim de tudo é o maior mistério até então. Jamais desvendado. Mas dá no mesmo. Sete palmos abaixo do chão ou virar pó. Ou ser jogado no mar, sei lá. Algumas opções aí. E eu to nem aí de saber se meu fim é amanhã ou daqui a muitos anos. Na verdade do jeito que anda tudo, por mim pode ser amanhã mesmo, nem ligo. Viver e seguir em frente tendo que seguir todos esses padrões desanima. Eu só quero sentir a vida. Não nasci pra agir, fazer, correr atrás, crescer, cair, seguir em frente, conquistar, chegar lá. Lá aonde? Eu nasci pra sentir. E se tenho alguma certeza na vida é essa. Nasci pra sentir. Sentir o mundo, o vento, a brisa, o mar, o sol, a lua, o quente, o frio, o verão. Conhecer pessoas e me encantar por suas personalidades. Tentar entender algumas. E ver que é impossível. Quem é de verdade é impossível de ser entendido. E quando se nasce assim, pra sentir, nada é simples. Nem a vida, nem acordar, nem ser, permanecer então... é algo fora de cogitação. Dormir que deveria acalmar e dar o gás é a tarefa mais difícil de se exercer. Os pensamentos não deixam. Tantas sensações e inquietações. A culpa por reclamar de uma vida relativamente tão boa, que nunca faltou nada. Nem amor. Enquanto o mundo sofre com inúmeras desgraças. E sofrer junto as desgraças do mundo ao mesmo tempo em que se sofre a desgraça de não ter dinheiro pra ir naquela super festa que vai ter. A culpa pelos sentimentos ambíguos e hipócritas. Mas aí calma, respira, você consegue. Tenta se encaixar um pouco no modelo. Tenta seguir um pouco as imposições sociológicas. E o tédio vem ainda maior. Quer saber, um dia eu ainda vou rir de tudo isso. Um dia ainda vou ser eu que vou olhar pra todos essas pessoas robóticas e metódicas e seguidoras do padrão todo, que não questionam nada, que não sentem nada, que não tem medos, dúvidas e aflições e pensar: os loucos são vocês. Aliás, acho que esse dia já chegou. Loucos, todos vocês. Agora dá licença que eu vou viver a minha lucidez de sentimentos contrários, idéias ambíguas e vontades antônimas.

terça-feira, 13 de março de 2012

Menos dor. Mais cor.




Hoje, de acordo com os meus cálculos faz um mês e uma semana desde aquele fatídico dia que eu daria tudo pra nunca ter existido. Ver tudo desmoronar daquela maneira foi muito difícil. Para não dizer enlouquecedor. Chorei, como chorei. E ainda choro vez em quando. De repente escapa um gesto, um momento e a saudade transborda pelos olhos.
Apesar de ainda estar estarrecida e muito ferida, acho que finalmente consegui sair do estado de inconformismo em que me encontrava. Como disse uma vez Caio Fernando de Abreu "Em duas palavras eu posso resumir tudo que aprendi sobre a vida: ela continua". E o que eu não sabia, o que não me contaram, é que ela continua linda e cheia de possibilidades. Não é nada fácil. A princípio eu não queria continuar. Lutei muito pra tentar permanecer ali, no mesmo lugar. Iludi-me pensando que dessa maneira eu poderia evitar a realidade tão crua que se escancarava sobre mim. Tentei buscar refugio nas lembranças, nas fotos, no passado que um dia construímos juntos. Mas é claro que ao invés de abrigo, isso tudo só machucava ainda mais. E tão ferida, quis ferir também. Surtei, perdi a cabeça, a dignidade, a honra, a credibilidade. E tudo isso sem causar nem uma mudança de expressão facial. Você anestesiado, apático, atípico. A dor que eu sentia ainda não dissipou. Permanece. Ainda que diminuindo gradativamente. Porém resolvi que não dá mais pra viver assim.
A vida vai mostrando os caminhos, vai levando a gente. Quando percebemos, já não tem mais tanta importância assim (ou tentamos nos enganar fingindo não ter). Hoje depois de muito tempo eu acordei cedo e me mexi. Fiz coisas produtivas, úteis e que me trarão muitos benefícios. Vi o céu limpo e azul como há muito não via, apesar de que ultimamente ele tem estado sempre assim. Limpei os olhos. Levei embora a cegueira. Acordei para a vida, para o mundo, para a beleza, para a natureza, para tudo o que já está aqui e é meu, eu já conquistei. Tanta possibilidade escancarada, batendo na minha porta, tanta coisa boa. Por que querer me fazer de vítima e agir como a última solteira do Rio de Janeiro? Nada disso. Chega.
Não vou mentir que várias vezes durante o dia e a noite quando sonho recebo sua visita na minha mente. Mas essa visita já divide espaço com outras que têm merecido muito mais atenção. Os dias seguem, a vida continua. E com licença, eu vou com ela. Chega de ficar parada. Chega de dias cinzas, de dor. Quero dias coloridos, felizes, com muitos sorrisos, muitos abraços. Com afeto verdadeiro. Portanto, venha Vida, estou pronta. Me leve com você.