sexta-feira, 10 de abril de 2015

O carma do nome com a quarta letra.




Começou depois daquele meu último relacionamento mais longo. O primeiro que eu resolvi dar uma chance, arriscar, que achei que tava pronta pra voltar a me relacionar com pessoas. Numa festa bem badalada, eu exaltava alegria como se não houvesse amanha. E no meio de tanta euforia e sorrisos e cervejas e passos de dança, uma conversa, uma troca de olhares e, enfim, arrisquei.

Ainda era relativamente recente pra mim. Quando esse primeiro me pediu meu facebook, tratei de falar que não, melhor não. "Você vai me adicionar e ver um milhão de fotos com meu ex e não vai gostar, deixa assim." E assim ficou. Depois até rolou uma tentativa de aproximação, mas decretei que definitivamente não. Aquela noite havia sido um erro, sem chance de ser repetida.

Mal sabia eu que tinha apenas começado uma trama, me lançado em uma espécie de carma e que esse, era só o primeiro da sequência dos que têm esse nome iniciado pela quarta letra. Passou o primeiro, meio esquecido, meio despercebido, com um toque de arrependimento.

Depois, logo depois, veio o outro, também com aquele nome iniciado pela quarta letra. Esse sim mexeu comigo. Esse me fez acreditar que era possível de novo, que valiam apena as tentativas de felicidade. Por uns dois meses, poucos encontros, mas com um conexão que não é fácil de achar. Caí nas graças, me entreguei e já nem sabia mais quem era aquele tal ex. Dormia com sorriso no rosto, encontrava com paz na alma, voltava pra casa já com saudade. O mundo voltou a ser colorido, os sentimentos voltaram a fazer sentido e a vontade de estar junto prevalecia.

Mas por ironia do destino, pelas esquinas da vida, pelos traços mal traçados, cruzou outros caminhos. Sofri, me apeguei, fiquei inconformada. Pra esse eu queria dar o mundo, todo meu carinho, toda minha atenção, todo o meu amor. Mas da noite pro dia, do conto de fadas pra realidade, o príncipe encantado da prancha de SUP virou um sapo.

Com sofrimento adolescente, certa relutância e alta dose de inconformismo, continuei. E pelo caminho, apareceu mais um. Mesmo nome, iniciado pela mesma letra, outra vez. Amigo de um amigo, sorriso fofo, meio garoto, meio tímido, meio deslumbrado. Acabou acontecendo. E tem sido e tá sendo. Dia a dia, meio sem jeito...

Pra completar, mais outro, mesmo nome, mesma letra. Não cheguei a conhecer, apenas converso vez em quando através dessas ferramentas tecnológicas, mas que surge oferecendo mil carinhos, mil elogios, mil galanteios.

Em dezembro, nessa primeira chance que dei de volta pra vida, depois daquele relacionamento mais longo, abri o caminho pro início desse carma. Não sei se vai parar algum dia, não sei se vou parar em algum desses de nome com a quarta letra, não sei se muitos assim ainda virão. Mas não é possível que seja só coincidência. Alguém sabe explicar o inexplicável? É carma mesmo? É, sei lá, numerologia? Ou é só mais um motivo, mais uma desculpa, pra ficar martelando na minha cabeça teorias que possam desvendar o mistério?

Num espaço de tempo de 5 meses, todos esses com o mesmo nome, iniciado pela quarta letra. Todos completamente diferentes entre si. Todos despertando coisas completamente diferentes em mim. Todos colaborando pra que, dia a dia, eu me descubra cada vez mais. Vai ver é isso. Desvendado o mistério. O objetivo disso é, como sempre, me descobrir, me revelar, me conhecer, me reinventar.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Dia do Jornalista.



Então quer dizer que hoje é o Dia do Jornalista. Pela primeira vez passo este sete de março como uma profissional da área. Quer dizer, pelo menos é o que consta no meu currículo e no meu diploma.

Comecei o curso querendo mil coisas. Escrever, a principal delas. Já quis atuar no jornalismo investigativo e levar uma vida á la Tim Lopes. Já quis ser a futura Fátima Bernardes (ou Patrícia Poeta, trazendo um pouco para a realidade atual). Já quis ser uma Glória Maria, fazendo matérias e reportagens incríveis mundo afora.

Hoje, formada, depois de tantos quereres diferentes, não faço mais ideia do que quero de fato. O trabalho do jornalismo, quando feito com seriedade, imparcialidade e com compromisso com a informação e com a verdade é lindo. O profissional muitas vezes se arrisca em meio à guerras urbanas, perde datas e mais datas festivas fazendo coberturas de acontecimentos que não param de ocorrer só porque é feriado ou fim de semana, passa por coisas super delicadas.

O jornalista precisa ainda, além da perspicácia, audácia, curiosidade, senso crítico e insistência, ser sensível. Precisa entender quando pode insistir e ir atrás e quando está desrespeitando a dor de alguém.

No país hoje há uma desvalorização absurda do profissional de jornalismo. Os salários são baixos, muitas vezes menores até que remunerações para pessoas com nível médio. O advento da internet, ao mesmo tempo que adianta absurdamente a vida de todos nós, surge como uma certa barreira também. Qualquer pessoa publica qualquer coisa sem apurar os fatos. Qualquer notícia falsa é viralizada em questão de segundos.

Os desafios para nós, profissionais da área, são muitos. Como recém formada, na busca por uma oportunidade de trabalho, me sinto frustrada. Vejo o mercado mega exigente, querendo um profissional com experiência nas mais diversas áreas por tempos consideráveis, que tenha cursos, pós, e etc, mas em contrapartida oferecendo um salário que não condiz com tantas exigências.

Sinto sim orgulho em dizer que sou jornalista. Foi uma trajetória não muito fácil para chegar até aqui. Mas confesso, estou desanimada e tentando ser criativa no sentido de procurar outras frentes.

No mais, neste sete de abril só posso desejar muita garra e muita perseverança a todos nós que escolhemos para nossas vidas esta profissão tão bonita, mas tão desvalorizada.

sábado, 4 de abril de 2015

Eduardo.




Sabe, Eduardo, quando eu tinha a sua idade, 10 anos, eu era uma criança como outra qualquer. Minhas principais ocupações eram o colégio e a ginástica olímpica. Nessa idade, eu amava brincar, sonhava em ser atleta, competir uma Olimpíada, depois ser médica, de repente, e, claro, viajar o mundo todo. "Não quero casar não! Tá doida que vou lavar cueca de marido! Vou é ter vários namorados e conhecer o mundo!", eu dizia, com uma lucidez impressionante pra tão pouca idade. Acredito que, como eu, você tivesse um monte de sonhos, planos e imaginasse um monte de coisa linda, doce e colorida pro seu futuro.

Eduardo, provavelmente nossa infância foi um pouco diferente, porque eu moro na zona sul e sempre morei e venho de uma família de classe média. Mas apesar disso, a família da minha mãe talvez seja tão humilde quanto a sua e isso me fez ver desde cedo que o mundo não é esse quadro cor de rosa que as menininhas da minha idade e da minha escola conheciam.

Sabe, Eduardo, a minha tia avó mora numa comunidade na periferia de Nova Iguaçú. E adivinha qual era a maior diversão nas minhas férias? Ir pra lá, ficar uma semana, mais ou menos na casa dela. Eu adorava. Uma prima da minha idade quase morava ali pertinho também. Você consegue imaginar, Eduardo, o quanto eu gostava de ir pra lá? Era tão bom! Eu brincava com várias outras crianças que tinham mais ou menos a mesma idade que eu. Ficávamos o dia inteiro pela rua brincando de pique, queimado, casinha e o que mais nossas imaginações permitissem. Eu chegava em casa imunda, cheia de terra daquelas ruas sem urbanização. Mas com uma alegria sem igual,

Eu adorava aquelas crianças de lá, que brincavam comigo sem parar. Eu não conseguia ver diferença nenhuma entre eu e elas. No máximo percebia que as roupas delas eram bem surradinhas e maltrapilhas e as minhas eram mais direitinhas. Percebia também que elas não tinham tantos brinquedos legais como eu tinha, mas em compensação eu via que elas tinham a rua pra brincar, coisa que eu nunca tive, a não ser quando estava por lá. As casas em que elas moravam também eram diferentes, quase todas tijolo puro, sem uma tinta, poucos móveis, às vezes um só cômodo. Mas eu sabia, Eduardo, que nada disso fazia delas diferentes de mim. Éramos todos crianças e precisávamos nos ocupar em brincar bastante.

A maioria delas não conhecia a praia, sabia dessa, Eduardo? Como podiam viver sem conhecer o mar? Eu sonhava em trazê-las pra passar uma semana aqui em casa e brincarem com meus brinquedos, irem à praia comigo, curtirem a piscina do clube que eu era sócia. Nunca aconteceu, não sei porque. Mas eu tinha vontade que elas viessem. Se eu podia ir ao clube, ter brinquedos, ir à praia, por que elas não podiam também?

E aí, Eduardo, nessa nossa idade de 10 anos, eu não entendia ainda muito bem toda essa injustiça e desigualdade desse mundo. Acredito que você também não via razão para as coisas serem como são, mas com certeza já devia ter sentido na pele o preconceito e o peso que morar em uma favela trazem. Sua mãe, assim como a minha, é trabalhadora e esforçada e fazia de tudo pra te proporcionar a melhor vida que ela podia. Vida essa que acabou, não é, Eduardo? Tragicamente acabou.

Hoje, nesses dias, todos sentimos sua perda. Eu não consegui conter minhas lágrimas diante de tamanha injustiça. Meu coração tá apertadinho, Eduardo, e eu queria muito poder dar um abraço bem forte na sua mãe. Eu queria muito que o mundo não fosse essa guerra que ele é. Eu queria muito que você e todas as crianças como você tivessem tantas oportunidades na vida como eu tive. Eu queria que o Estado e a polícia entendessem e respeitassem vocês.

Eu não te conheci, Eduardo, mas choro a sua perda com uma dor que não cabe em mim. Mas escuta, Dudu, aí de cima, nesse lugar lindo e iluminado que você está agora, trate de aproveitar o que não deu pra aproveitar por aqui. E reze, reze muito. Nós estamos com você. Que Deus conforte o coração da sua mãe, da sua família. E que nenhuma outra criança seja vítima fatal das circunstâncias. Que ser pobre, da favela e/ou negro, seja a mesma coisa que ser branco, do asfalto e classe média. Que a justiça, a segurança, a educação, a saúde, a urbanização, o esporte, a cultura, sejam para todos.

Fique em paz, Eduardo. Eterno anjinho.