quarta-feira, 11 de abril de 2012

Os outros.

Acordo com preguiça de levantar da cama e pensar no meu dia e nas coisas que eu tenho que fazer. Mas rapidamente penso nele. Abro um sorriso, imagino uma história, me engano, crio, iludo e, finalmente, levanto. Já no café da manhã, lembro do outro e o jeito dele de nunca tomar café da manhã. Esse tá sempre com o tempo contado. E acho engraçada essa sua pressa. Mais tarde, quando vai chegando a hora do almoço, lembro do outro e do dia que saímos pra almoçar, sem maiores pretensões e como tudo aconteceu sem que pudéssemos esperar. Senti saudades dele e das surpresas da vida. Durante a tarde em meio aos mil afazeres ou ao tédio profundo, o outro invade meus pensamentos. Ele que nunca pode ser compreendido. Que sempre foi um mistério. E tenho vontade de ligar pra ele e saber como ele está. Já na hora do jantar, na dúvida a respeito da escolha do prato, penso naquele outro que nunca sabia o que queria. Lembro como somos parecidos por nunca sabermos o que queremos e por um segundo fico sabendo o que quero: estar ao lado dele. E o dia, os dias, seguem assim. Uma confusão de pessoas e personagens e personalidades. A vontade de abraçar o mundo mas ter braços tão pequenos que nunca aguentam abraçar nem uma única pessoa. E depois dessa rotina toda, pensando, lembrando, querendo, sentindo saudades e desejando de maneira tão leve tantas pessoas, na hora de deitar e dormir lembro dele. Ele que não me deixa dormir. Que me tira o sono, que me rouba lágrimas incessantes e destrói sorrisos fascinantes. E choro, como choro. E quando vou ver já está tarde de mais pra ser de alguém, pertencer a alguém. E só porque mais um dia chegou ao fim e eu não tive amor, muito menos o amor dele, fecho os olhos e me forço a dormir a qualquer custo. No dia seguinte, só pra continuar me enganando, acordo mais uma vez com preguiça de levantar da cama e pensar no meu dia e nas coisas que eu tenho que fazer. E rapidamente penso em mais um. E assim segue a minha vida. Mais um dia, mais mil personagens e uma única dor latejante e eterna.

Um comentário:

  1. Interessante é que esses personagens te deem uma motivação extra para conseguir levantar da cama sem pensar 'merda, e agora?'. Acho, por si só, válido, sem qualquer argumentação.
    Sou muito interessado nos personagens que nunca cheguei e talvez nunca chegue a conhecer. Aqueles que compõem o nosso mundo, que parece que estão ali só como figurantes, numa espécie de Show de Truman mesmo. O que eles fazem, pra onde vão, o que anseiam, enfim, uma olhar noturno sobre a vizinhança já te dá essa dimensão.

    Legal também saber que você tem um blog, aliás, há bastante tempo. Apesar de o meu não funcionar mais, ainda gosto bastante de fuçar o pensamento alheio; me divertirei por aqui!

    Beijos,

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