Já faz falta o descompromisso. Já faz falta acordar cedo com cansaço e ressaca e ainda assim feliz e empolgada. Já faz falta a única preocupação do dia ser chegar em casa e ainda preparar os jelly shots pro dia seguinte. Já fazem falta os amigos por perto, os sorrisos compartilhados, os abraços multiplicados e os carinhos com quem mereceu mais atenção.
Depois de todo esse festival de alegria, dessa explosão de sentimentos puros, dessa fantasia (não apenas no sentido de "vestimenta"), desse delírio coletivo regado a gargalhadas e álcool, a realidade volta à tona com tudo. Vem cortante. Vem difícil.
Lembrar que a vida agora é um vão escancarado com milhões de possibilidades, mas sem conseguir enxergar nenhuma oportunidade, traz uma dor que dilacera o peito, um vazio impreenchível. Como completar os dias? Como prosseguir com a vida? Como escolher um caminho? Como começar esse caminhar?
O vão, o vazio, a estrada escancarada com mil vias e retas e curvas e ladeiras e obstáculos. Pra onde ir? Qual direção tomar? Afirmo para mim mesma que é proibido estacionar na vida. Mas como não ficar paralisado diante de um penhasco?
Mil planos, duas mil e uma ideias e a inabilidade de colocar qualquer coisa em prática. No campo da teoria, sou campeã em construir vidas e sonhos. Mas não consigo transformá-los em realidade, não consigo nem mesmo saber por onde começar.
Eu só queria um bom motivo pra acordar todos os dias. Eu só queria ter certeza que tô fazendo alguma coisa relevante pra alguém. Eu só queria saber que não preciso ficar desesperada com o saldo no banco.
Eu só queria uma chance de ser quem sou, sem medo. Uma oportunidade de colocar pra fora todo o potencial que eu sei que existe em mim, ainda que debaixo de uma insegurança gigante e de baixa auto estima. Eu só queria que a vida fosse mesmo um carnaval, não no sentido do descompromisso e da esbórnia sem fim, mas no sentido de sempre haver um motivo a mais pra festejar.